Blog Clipping
sexta-feira, julho 25, 2003
 
Fonte: Jornal de Notícias, 25 de Julho de 2003

A blogosfera
Francisco José Viegas, escritor

De repente, a descoberta da blogosfera veio para as páginas dos jornais. José Pacheco Pereira publicou alguns artigos sobre a matéria e o essencial disse-o ele: é impossível saber o que pensa o Portugal dos anos 90 sem referir a blogosfera, o mundos dos blogs, a travessia imediata da internet por cidadãos anónimos ou com nome que, diariamente, dão opinião, escrevem sobre todos os assuntos (de política a medicina, de sociologia a arquitectura, de literatura – sobretudo – ao dia-a-dia de gente que não conhecemos). Essas pessoas já não têm lugar fixo: existem no éter, esse estádio luminoso que se liga ao mundo por um cabo, por um modem, e que é lido onde quer que seja. Ninguém é, exclusivamente, de Lisboa. Mas pode-se viver em Seia ou em Ponta Delgada e isso não ter qualquer importância: escreve-se no éter. E qualquer um pode fazê-lo sem mediação das instituições tradicionais do jornalismo ou da edição. O que tem riscos consideráveis e exerce um fascínio incontrolável sobre os que querem dizer qualquer coisa e podem fazê-lo.
Para leigos, a blogosfera, o mundo dos blogs, também deixa de ser um produto alquímico ou tecnológico – está ao alcance de todos, dos olhos de todos, de todas as audiências. Está à distância de um rumor e de um gesto simples: um endereço na net, de um link a outro passa-se depressa. Uma das questões mais discutidas a propósito dos blogs tem a ver com a sua relação com o jornalismo. É, de qualquer modo, uma falsa questão. Os blogs não põem em risco o jornalismo, evidentemente, nem os jornais: mas desafiam-os, obrigam-os a moderar a sua marca ideológica e as suas tentativas de manipulação, lançam reptos à preguiça das redacções e à sua modorra, provam que não é preciso ser-se profissional do jornalismo para escrever sobre a passagem do tempo ou sobre a actualidade – mas que o profis- sional do jornalismo deverá ser mais exigente, mais rigoroso, mais culto e mais informado do que tem sido até agora. Sobre política internacional, que é o domínio onde as redacções são mais preguiçosas, incultas e sensíveis à demagogia e à propaganda, quase todos os blogs são mais interessados e fornecem mais informação. Onde a Imprensa é declaradamente parcial, os blogs protestam e fornecem outras explicações, dão um passo em frente, arriscam e não temem nenhuma censura, nem a "correcção política" dos sacerdotes tradicionais. À Esquerda e à Direita (mas sobretudo à Direita – cuja percentagem já foi mais elevada do que hoje), os blogs libertaram-se da Imprensa dos mandarinatos (e do poder da "geração de 60") e revelam muitas vezes as suas falhas. De facto, é impossível saber o que pensa o Portugal dos anos 90 sem recorrer à internet, sem recorrer aos blogs – mais do que às teses de doutoramento dos sociólogos. É um mundo desordenado, cheio de vícios, de revelações sobre o banal e o extraordinário que habitam em cada português com educação média e gostos literários acima da vulgaridade. Por isso, os mandarins temem essa opinião – desvalorizam-na por ser tão frágil e apenas viver no éter, lá onde as revoluções olham de cima o traçado dos geógrafos. Não se trata apenas da relação cada vez mais próxima entre autor e produto do seu trabalho, como predisse Walter Benjamin. Trata-se de uma batalha pela voz. A Imprensa só tem a ganhar, se compreender esta ideia.

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quinta-feira, julho 24, 2003
 
Fonte: Diário de Notícias, 19 de Julho de 2003

'Bloggers' portugueses reúnem-se em Setembro
PAULA FERREIRA
O primeiro encontro de bloggers portugueses está marcado para 18 e 19 de Setembro, na Universidade do Minho (UM), em Braga. Manuel Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da UM, espera que a iniciativa constitua «um espaço de reflexão que ultrapasse a fronteira da blogosfera».Na altura serão divulgados os resultados de um inquérito sobre os weblogs portugueses, uma espécie de retrato das práticas e dos porquês deste fenómeno de comunicação.

O encontro está organizado em três áreas temáticas: participação e espaço público, investigação, ensino e aprendizagem e jornalismo e comunicação. José Luís Orihuela, autor de Blog e Cuaderno e professor de escrita não linear e desenho audiovisual da Universidade de Navarra será um dos oradores presentes em Braga.

Manuel Pinto espera, no entanto, que o encontro extravase o campo meramente académico. Na UM vão também encontrar-se os elementos do blogdesquerda, socioblog, portonet, pontomedia, intervencaosonora, entre outros. Trata-se de espaços de discussão de temas ligados à política, ciências sociais, educação e música.

O interesse pelos weblogs na UM surgiu no âmbito do mestrado de Informação e Jornalismo, tendo dado origem em Abril de 2002 à auladejornalismo.blogspot.com, um fórum de discussão de temas de comunicação. Logo surgiram outros blogs na universidade.

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Fonte: Jornal Combate, Julho de 2003

Blogs, a nova febre
Está em curso uma revolução silenciosa na Internet portuguesa. Em poucas semanas, a febre dos weblogs instalou-se na rede. Com a mediatização proporcionada pela adesão ao fenómeno de algumas personalidades da cena política e cultural, a virulenta explosão de blogues nacionais ultrapassa, em larga medida, a capacidade diária de assimilarmos o muito que se vai fazendo. Paralelamente à extrema facilidade com que qualquer um pode criar um blogue, a ilusão da cobertura mediática estimula o narcisismo da produção de conteúdos, breves notas e comentários sobre inquantificáveis temas, assuntos, interesses. E que fidelizam, diariamente, milhares de leitores.

A avidez com que os blogues se vêm manifestando explica-se, em muitos casos, pelo «carimbo». Os chats, as listas de discussão e os fóruns aglutinam uma participação indistinta, anónima. Os blogues assinam-se – o que marca toda a diferença. Logo, por ora será prematuro discutirmos a blogosfera. Porque as euforias perante as novas tecnologias, estimuladas pelo maior ou menor arroubo do momento, esmorecem rapidamente. Em breve, uma selecção natural das experiências em curso criará um espaço próprio para os que permanecerem no núcleo de interessados, para além do divertimento de circunstância. Até porque, na blogosfera, algumas semanas parecem anos. O que cansa e desencanta.

Todavia, um dos mais interessantes aspectos que caracteriza a blogosfera lusitana é a sua clarividente clivagem entre Esquerda e Direita. Uns mais anónimos do que outros, políticos ou não, toda uma massa exercita, pelo posicionamento ideológico, uma das marcas de água dos blogues. Com uma total liberdade de escrita e com polémicas muito próprias, a discussão política nos blogues é uma constante, inaugurando novos espaços para inflamadas tertúlias. E, reconhecidamente, com um nível intelectual que não vemos noutros locais.

Mais recentemente, a crescente tematização de conteúdos dos blogues despersonaliza aquele seu carácter mais tribuno: projectos exclusivamente centrados num tema específico têm vindo a aumentar consideravelmente a qualidade da nossa blogosfera, permitindo um trabalho mais dialéctico e dinâmico do que nos tradicionais websites. Com quem os blogues, longe de competirem, modelam a ponte de um complemento.

De resto, lançando pistas de investigação, notas de rodapé, observações e reflexões, os blogues perspectivam-se ainda como um estimulante suporte de apoio à pesquisa e investigação nas ciências sociais. Em alguns países do norte europeu, diversas universidades adoptaram há muito os «blogues de investigação» como uma ferramenta imprescindível de trabalho. Por cá, alguns indícios tímidos apontam nesse sentido.

Temos, pois, um novo mundo que se expande pela Internet numa onda de choque. Ainda volátil e provisória, é certo, mas já a certeza que doravante teremos de actualizar o léxico. Talvez, permito-me, começando pela célebre sentença de um determinado ideólogo marxista: que mil blogues floresçam!

Sugestões de leitura
http://aviz.blogspot.com
http://blog-de-esquerda.blogspot.com
http://blogosocialportugues.blogspot.com
http://cruzescanhoto.blogspot.com
http://estudossobrecomunismo.blogspot.com
http://socioblogue.blogspot.com
http://1936-1939.blogspot.com

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terça-feira, julho 15, 2003
 
Fonte: Público, 13 de Julho de 2003

DESEJO CASAR

Por ANA SÁ LOPES
Domingo, 13 de Julho de 2003

Apesar de continuar a ter muitos amigos que não sabem o que é um blogue, (que é o que se deve passar ainda com a maioria das pessoas) aconteceu-me de há uns meses para cá ter ficado ligeiramente dependente do chamado fenómeno da "blogoesfera", afinal uma mera continuação de quaisquer outras dependências relativamente a palavras de outros, venham elas de onde vierem.

Como quase toda a gente com acesso à Internet pode ter um blogue, a "blogodependência" tem a enorme vantagem de nos fazer chegar às mãos textos de pessoas que não têm acesso aos media tradicionais, ou textos (alguns preciosos) de jornalistas, editores e escritores que se dispõem ao difícil mas desafiante exercício do diário público, como Pacheco Pereira (www.abrupto.blogspot.com), Francisco José Viegas (www.aviz.blogspot.com), Manuel Alberto Valente (oceanos.blogspot.com), Nelson de Matos (textosdecontracapa.blogspot.com), etc. Um blogue pode ser puro delírio ou servir para o estudo da guerra civil de Espanha (1936-1939.blogspot.com), e esse espaço infinito de comunicação marca, naturalmente, uma ruptura política. Gozo, entulho, pérolas: "Help yourself" e adicione aos favoritos.

A blogoesfera passa a vida a discutir-se a si própria (numa espécie de metabloguismo, como já alguém - num blogue - escreveu), mas, como a rede, a discussão é interminável. Não vou discutir a blogoesfera portuguesa: a ligeira dependência não me trouxe ainda suficientes instrumentos de análise de tão extenso fenómeno. Resta-me falar do meu blogue favorito: é mesmo o DESEJO CASAR (www.desejocasar.blogspot.com). Primeiro, quem chama a um blogue DESEJO CASAR (é assim mesmo, em maiúsculo) merece evidentemente ser lido. Mas, depois do título, descobrem-se textos de treze criaturas que merecem sem dúvida as bênçãos do casamento. Infelizmente, duas das mais belas escritas do DESEJO CASAR, Hugo Rocha (que quando escreve, escreve coisas lindíssimas a partir do Faial) e Tiago Rodrigues, não são muito assíduos (a menos que na altura em que este jornal estiver na rua já o blogue esteja devidamente actualizado). O DESEJO CASAR às vezes escreve sobre tudo, outras vezes sobre nada, umas com a delicadeza de uma noiva, outras a fugir-lhe a mão para a despedida de solteiro. A multiplicidade de vozes - que no próprio blogue já foi apontada como problema - é uma virtude máxima neste casamento.

Por mim, já casei.
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sexta-feira, julho 04, 2003
 
Fonte: Diário de Notícias, 04 de Julho de 2003

«'O Meu Pipi' parece-me um bocado ordinário...»
Conhece «O Meu Pipi»? Conheço. É mesmo o único blog que consulto e vejo. Visita-o regularmente? De vez em quando. Acho-lhe piada. Mas quem o escreve podia corrigir alguma da porcaria que lá vem. Não no sentido dos palavrões, mas do que cheira mal. Já comentou alguma coisa de «O Meu Pipi»? Já escreveu ou esteve tentado a escrever para lá? Não, mas até falo dele na minha próxima revista, naquela que sai esta semana. A propósito de uma tese em que ele sustenta que Adão podia ter sido gay, tendo em conta a representação que é feita nos frescos da Capela Sistina. E aproveito para explicar que isso não é verdade. Se há alguém que ali é gay só podia ser o Criador... Gosta de blogs? A maior parte são pretensiosos... Era capaz de ter um blog? Eu tenho um blog. Está é fechado. Uso-o apenas como cadernos de apontamentos para os meus rascunhos. Já pensou na hipótese de o abrir? Ando a pensar nisso, mas já tenho um site: www.o-moralista.pt. O seu blog seria do estilo de «O Meu Pipi»? Não... O tipo que o faz é um bocado ordinário... Conhece-o? Não, mas ele já falou em mim. Disse que eu estava velho, que já não tinha estaleca. Se soubesse quem era o seu autor, continuaria a lê-lo? Penso que sim. O fim do mistério não prejudicaria «O Meu Pipi»? Penso que não. Mas ele arriscar-se-ia a alguns processos. Não são só os palavrões, ele trata mal algumas pessoas... Arriscava-se a isso.
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Fonte: Diário de Notícias, 04 de Julho de 2003

O duelo erótico entre 'blogs'
ARMANDO RAFAEL
Há dois meses era praticamente desconhecido. Salvo num círculo muito restrito de pessoas. Há uma semana, o semanário Expresso dedicou-lhe duas páginas da Única, mas o mistério permanece: quem é o autor de O Meu Pipi, o mais famoso dos blogs portugueses? Tudo por força dos seus palavrões e, muito em especial, das teses que apresenta sobre sexo. Sem censura, nem restrições de espécie alguma. Muito na linha de alguns dos poemas de Bocage e do humor de José Vilhena. Com uma pequena diferença: é mais cru.
«O Pipi é o camionista que há dentro de cada um de nós», explicava no sábado passado o seu autor-mistério, numa entrevista concedida ao jornalista Paulo Querido. «Todos nós temos dentro de nós um camionista, um mecânico, o gajo que cola na parede do escritório o calendário de gajas nuas. Apesar de não o podermos revelar, quantas vezes temos estes pensamentos sobre o que faríamos àquela gaja, e sorrimos para dentro...»
Talvez por isso se justifique a pergunta que há vários semanas passa pela cabeça de todos os bloguistas: quem será O Meu Pipi [www.omeupipi.blogspot.com]? As apostas multiplicaram-se. Seria Vasco Graça Moura? Eduardo Prado Coelho? Francisco José Viegas? José Vilhena? Rui Zink? Pedro Mexia? Ricardo Araújo Pereira ou Zé Diogo Quintela, dois dos bloguistas de Gato Fedorento?
As dúvidas justificam-se e as apostas também, quanto mais não seja pelas referências culturais de O Meu Pipi.
Só que esta semana houve um dos visados que se auto-excluiu deste debate: Vasco Graça Moura. O eurodeputado social-democrata pediu emprestado o blog do seu colega José Pacheco Pereira (Abrupto) e arrasou. O Meu Pipi não gostou e respondeu-lhe na mesma moeda. Uma polémica em vilancete, segundo especialistas. A poesia ficou a ganhar, o mundo dos blogs entrou na estratosfera.Diário
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Fonte: Correio da Manhã - 29 de Junho de 2003

Histórias / Actualidade
BLOGUE, A NOVA MODA CIBERNÉTICA

Imagine que pode ter uma espécie de diário em que ‘despeja’ o que lhe vai na alma para que outros saibam. Isso é possível e tem um nome: blogue. A última mania a bordo da ‘Net’.
CM

Os nomes são quase tão provocadores como os próprios blogues

Só no domínio Blogs em .pt, que compila os ‘weblogs’ criados por portugueses ou em Portugal, já estão indexados mais de 700 ‘blogues’, um número que aumenta diariamente. Personagens tão distintas como os escritores Pedro Mexia ou Miguel Esteves Cardoso, os políticos Pacheco Pereira e Pedro Adão e Silva ou os jornalistas Francisco José Viegas, Miguel Souto e José Mário Silva já aderiram à nova moda cibernética, que tem motivado os mais variados artigos de análise e também críticas na Imprensa mundial. Nos ‘blogues’ fala-se, discute-se, disserta-se, partilham--se sentimentos, paixões, opiniões, visões do Mundo, ideias políticas, cria-se polémica, contam-se histórias mais ou menos íntimas mas, acima de tudo, tem-se a liberdade de exprimir tudo o que vai na alma. Serão os ‘blogues’, os ‘Tamagochis’ virtuais? Ou apenas mais uma ‘moda’ que veio para ficar? Mas afinal, o que é que são os ‘blogues’? E, na realidade, para que serve ter uma página ‘blogue’?
Uma página ‘blogue’ não é mais que uma ‘webpage’ pessoal, com actualização constante, similar a um ‘diário electrónico’, ordenada cronologicamente e onde o(s) autor(es) colocam qualquer tipo de conteúdos, sem censura. A liberdade de expressão e o imediatismo são a tónica da comunidade ‘blogue’. “O facto de ser imediato é o que distingue o ‘blogue’ dos outros meios de comunicação escrita”, refere Pedro Adão e Silva, um dos criadores do ‘blogue’ ‘País Relativo’. A falta de controlo, de editores ou de obrigações para com os patrões ou leitores são aliciantes destes diários electrónicos. “São textos curtos, incisivos e muito conclusivos e, por isso, consegue-se criar quase sempre polémica”, refere este socialista. “É um espaço de maior liberdade, não há limites de temas, espaço, conteúdos”, diz o escritor Possidónio Cachapa, criador do ‘blogue’, ‘prazer_inculto.blogspot.com’.
Na ‘blogosfera’ nacional é abrangente. Uma rápida visita a ‘blogo.no.sapo.pt’ e eis que chegamos ao directório dos ‘blogues’ portugueses ou feitos em Portugal. Desde os desportivos, aos menos decentes e mais viperinos, aos construídos sob a forma de diário, aos humorísticos, artísticos, literários ou de discussão filosófico-política, na ‘blogosfera’ portuguesa encontra-se um pouco de tudo. Na maior parte dos ‘blogues’, pode-se comentar os textos colocados em rede, muitos deles com actualização quase minuto a minuto. “A primeira coisa que faço de manhã é dar uma vista de olhos pelos jornais e colocar um ou dois textos no ‘blogue’”, confessa Pedro Adão e Silva.

POLÍTICOS É QUE ESTÃO A DAR
Iniciado em 22 de Fevereiro, o ‘País Relativo’ é o exemplo claro de um ‘blogue’ dedicado à discussão política, mas que também abrange outras áreas da actualidade. Mantido por pessoas de esquerda, nem todos têm actividade política, até porque não é esse o seu objectivo. “Os ‘blogues’ que têm mais audiências acabam por ser os políticos, embora ache que não devam ser órgãos dos partidos”, afirma Adão e Silva, que define os ‘blogues’ com espaços “interessantes e estimulantes de debate e polémica”. Possidónio Cachapa considera que “a ‘blogosfera’ portuguesa é bastante mais abrangente do que se julga” e que até há uma grande selectividade da parte de quem a consulta. “Acaba por se criar uma tribo de ‘bloguistas’, que se dedicam mais a uns do que a outros”, especifica.
Uma das últimas polémicas na comunidade ‘blogue’ foi um artigo publicado por Pedro Rolo Duarte no ‘DNA’, suplemento de sábado do ‘Diário de Notícias’. As ferozes críticas à existência de ‘blogues’ motivaram reacções mais ou menos acérrimas no espaço cibernético. “Quem alimenta os ‘blogues’ exibe naquela ‘passerelle’ electrónica o que não tem a lata ou a coragem, ou a vontade de ‘vender’ nos jornais onde podem e devem publicar o que pensam”, escreveu na altura o jornalista. Pedro Adão e Silva discorda desta visão, até porque “não há uma dicotomia entre ‘blogues’ e imprensa tradicional, pois são espaços e meios diferentes”. Aliás, para o dirigente socialista, os ‘blogues’ recuperaram uma tradição perdida no jornalismo português: a existência de espaços de polémica e debate. “Uma componente nova e moderna vem recuperar uma tradição antiga, em que o espírito de polémica e de tertúlia surge novamente, onde se pode discutir tudo, sem entraves”, afirma.
No entanto, Possidónio Cachapa admite a existência de alguns ‘blogues’ que “são exercícios à volta do umbigo”. “Um dos grande aliciantes é ter um espaço de comentários, porque assim acaba por ser um verdadeiro fórum onde se exerce a democracia, algo que está desaparecido em Portugal”, afirma o escritor de ‘Materna Doçura’.
Autênticos ‘cogumelos cibernéticos, todos os dias aparecem on-line novos ‘blogues’. No espaço de uma semana, o Domingo Magazine assinalou pelo menos o nascimento de uma vintena, só de origem lusa. Uma tendência que deverá estabilizar. “Vai haver uma selecção natural e o Verão vai ser um teste para perceber se vai continuar a crescer”, acredita o criador do ‘País Relativo’.
Finalmente, a dica fundamental: ligue-se em ‘www.blogger.com’, registe-se e em poucos minutos terá o seu próprio ‘blogue’ e poderá ‘blogar’ à vontade, lançar para o espaço cibernético tudo aquilo que lhe vai na alma.

ESPREITADELA ÀS ‘BLOGOPÉROLAS’
– “Entre nós, na ausência de Vasco Pulido Valente, os melhores textos sobre portugueses que tenho lido foram publicados em ‘blogs’” - Pedro Mexia, escritor, ‘dicionariodiabo.blogspot.com’
- “Estive nos Açores. Nas ilhas, o Expresso só chega sábado à tarde. Tenho inveja dos açorianos: não se deixam enganar. A essa hora, as notícias já foram todas desmentidas” - Zé Diogo Quintela, ‘gatofedorento.blogspot.com’
- “Na ‘blogosfera’, metade parece estar deprimida porque ainda não foi para férias, outra metade porque já está em férias e uma pequeníssima minoria não consegue ficar deprimida. A mera existência desta minoria subversiva exige que se chame a Polícia do Pensamento” - Pacheco Pereira, eurodeputado, ‘abrupto.blogspot.com’
- “Peço encarecidamente a quem perceba do assunto que inaugure rapidamente a ‘silly season’ para que a forma se adapte à substância. Já não suporto a fantochada em torno do Código do Trabalho, como se a decisão do Tribunal Constitucional tivesse sancionado o chorrilho de parvoíces que lá consta e Dr. Bagão Feliz (desculpem a aliteração à la Contra-Informação) nos quer fazer crer” - Domingos Farinho ‘www.paisrelativo.blogspot.com’
- “Ontem à noite, na televisão, vi pela primeira vez (juro) uma coisa chamada Paula Bobone. Ficou confirmada a intuição de que é sempre possível bater recordes (a expressão é de Woody Allen e aplica-se a outra matéria). Herman José perguntou-lhe se o anel que trazia era criação da própria: que não. Que não era capaz de criar uma coisa daquelas. Que, se fosse capaz, deixava a literatura e dedicava-se àquilo” - Francisco José Viegas, jornalista, ‘aviz.blogspot.com’

BREVIÁRIO DOS ‘BLOGOTUGAS’
Alguns links de ‘blogues’ portugueses:
contra-a-corrente.blogspot.com (do jornalista/escritor Miguel Esteves Cardoso)
blog-de-esquerda.blogspot.com (feitos por elementos do Bloco de Esquerda)
blogo.no.sapo.pt (directório de weblogs portugueses)
www.webjornal.blogspot.com (‘apanhados’ de notícias dos outros ‘blogues’)
desblogueadordeconversa.blogspot.com/ (ideias sobre tudo e sobre nada)
cruzescanhoto.blogspot.com/ (esquerda desalinhada e aspirante a espirituosa)
republicadasbananas.blogspot.com/ (análise televisiva)
conversasdecafe.blogspot.com/ (tertúlia virtual)
postodeescuta.blogspot.com/ (ecos da blogosfera)
www.omeupipi.blogspot.com/ (se tiver coragem e indecência para visitar...)
http://ciberscopio.blogspot.com/ (do deputado José Magalhães)

AS ‘BLOGOAPRESENTAÇÕES’
Uma das características dos blogues é a ‘apresentação’ das páginas e dos autores. Uma frase, uma expressão e a forma de contactar o(s) autor(es) é o mais comum. Cada frase pretende descrever o que é que a página versa. Eis alguns exemplos:
- “Historiografia, narrativas e estatísticas de figuras e episódios lendários da bola, essa arte geométrica”, ‘caderneta-da-bola.blogspot.com’
- ”O homem torna-se Rei (senhor de si mesmo) quando é capaz de libertar a Espada (a sua mente) da Pedra (as suas pulsões instintivas)”, ‘portucale.blogspot.com’
- ”Estados d'alma, bom senso político e económico, espreitador literário... ferros curtos”, ‘almocrevedaspetas.blogspot.com’
- “Monteiros de escabeche, soares em vinha de alhos, e santanas na brasa”, ‘thomazcunhal.blogspot.com’
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Fonte: Visão - 26 de Junho de 2003

Bem-vindo à blogosfera

Um espaço de liberdade total ou um exercício de narcisismo? Com sarcasmo, humor ou seriedade, os pensamentos de centenas de portugueses revelam-se na Internet. Uns mais mediáticos do que outros ? todos os autores têm algo a dizer. Está na hora de actualizar os dicionários: a palavra blogue entrou no léxico nacional

Gabriela Lourenço e Mário Rui Cardoso / VISÃO nº 538    26 Jun. 2003

Já o relógio ultrapassa a meia-noite quando Pedro Mexia, 30 anos, se senta à frente do computador. Durante horas dedilha com entusiasmo o teclado, escrevendo pensamentos, estimulando discussões, partilhando poesias na Internet. Chega a estar acordado até às 5 da manhã. «Os dias em que sinto maiores afinidades com os toxicodependentes são aqueles em que não tenho Net», admite, um pouco olheirento.
Afinal, o que anima e deixa internetodependente um crítico literário? O mesmo que estimula um eurodeputado, um professor universitário, um jornalista ou um designer. Ou que move um conservador de direita, um radical de esquerda ou um anarquista convicto: os blogues (ou weblogs, no original, em inglês). A palavra parece estranha, mas não significa mais do que uma página na Internet com características próprias e aspecto de diário íntimo – individual ou colectiva, é actualizada regularmente e contém textos ordenados de forma cronológica. Com um conjunto de ligações para outras páginas, os blogues podem dar a possibilidade aos visitantes de comentarem os textos.
Se em 1997, quando surgiram pela mão de Dave Winer, não passavam de meras listas de links sobre os gostos e interesses dos seus autores, acompanhados de breves comentários, hoje, os blogues estão muito mais sofisticados. Nestas páginas, mistura-se reflexão e textos de carácter mais íntimo, havendo algumas ultra-especializadas em mil e um assuntos, da política ao humor, passando pela literatura, as artes, os assuntos sociais ou o futebol (os principais blogues portugueses estão reunidos em www.blogsempt.blogspot.com ou http://blogo.no.sapo.pt, que os arruma por temas).
As novidades em relação aos já «velhinhos» chats, fóruns e grupos de discussão são muitas: os chats estão mais associados a conversas de adolescentes; os fóruns têm uma componente mais séria mas falta-lhes a marca de «autoria». É a assinatura que transforma o blogue numa espécie de janela com vista para a personalidade e as ideias de alguém. Além disso, nos blogues assume-se – quase sempre – a identidade, ao contrário dos chats, fóruns e grupos de discussão, onde impera o anonimato.

 
Espaço de liberdade
Em busca de liberdade de expressão, os bloguistas portugueses multiplicam--se diariamente. Há seis meses, os blogues nacionais não eram mais de 150, hoje, são quase 800. Pela facilidade de criação de um blogue, qualquer pessoa com Internet pode ter um (ver caixa). De repente, descobre-se que o vizinho ou o colega de trabalho «despejam» as suas ideias, opiniões e gostos numa página, acessível a quem souber a morada electrónica. Na blogosfera escreve-se sobre tudo sem qualquer restrição. Susceptibilidades à parte, centenas de pessoas rumam diariamente ao blogue www.omeupipi.blogspot.com, com muita «verve» e sem papas na língua. É o exemplo máximo de uma escrita que só na Internet poderia sobreviver. «Apesar de ser preciso ter estômago para o ler, aquela página tem uma «arrumação» interessante. Aí está uma coisa que nunca chegaria aos jornais ou a livro, mas tem lugar ali», refere José Manuel Fernandes, director do jornal Público, que esteve desde a primeira hora atento a este fenómeno.
Os blogues atraem quem gosta de escrever e não tem onde.
Os favoritos de...

E também quem escreve por profissão mas não se esgota nas páginas dos jornais, nos textos publicitários ou nas rábulas televisivas. Basta querer dizer. Nascido pelas mãos de um grupo de amigos que dizem ter pouco em comum («a nível ideológico e até clubístico»), o Gato Fedorento encontrou no humor o ponto de convergência das vontades. Um blogue sem tema, mas com um tom definido, que fala de tudo o que passa pela cabeça de quatro rapazes entre 26 e 30 anos, autores dos textos das Produções Fictícias. «Só tínhamos acesso à televisão através do Herman. Pela primeira vez, podemos escrever para um público razoavelmente vasto sem intermediários», afirma Ricardo Araújo Pereira, 29 anos. Hoje têm uma média superior a 600 visitas diárias.«O que me leva a alimentar o meu weblog é o mesmo que me leva a ser jornalista: vontade de comunicar com os outros e suspeita de que o que tenho para escrever interessa a alguém», explica António Granado que, numa decisão de novo milénio, inaugurou o seu blogue a 2 de Janeiro de 2001. No Ponto Média, contam-se «estórias sobre jornalismo e jornalistas» mas, de vez em quando, também se mete a colherada noutros temas. Ao sábado, um resumo do weblog de Granado sai da blogosfera e aterra nas páginas do Público.
Para o também jornalista José Mário Silva, 31 anos, um dos autores do Blog de Esquerda, o aspecto interessante deste meio é o facto de «poder escrever sobre assuntos que sentimos não ter legitimidade ou oportunidade para escrever no jornal». Ou como referiu Miguel Esteves Cardoso numa das últimas crónicas no DNA: «Blogar é escrever num meio terrivelmente aberto – interactivo, instantâneo, espúrio (...) A força do blogue está no facto de não haver mediações; do salto ser puro; da combustão ser total.» Afinal, até o eurodeputado Pacheco Pereira parece dar passos maiores no seu Abrupto, como nota Nelson de Matos, 58 anos, editor da Dom Quixote e também autor de um blogue, o Textos de Contracapa: «Nos textos de imprensa ou na TSF, ele defende as perspectivas de um partido, enquanto ali está mais solto. Até consegue criticar Marcelo Rebelo de Sousa.» Em suma, um outro espírito, reconhece Francisco José Viegas. O escritor e jornalista abriu o Aviz há pouco mais de uma semana. «Nos blogues falamos mais francamente.»
Há uma semana, Pacheco Pereira dissertou sobre este fenómeno na sua coluna habitual no Público. «A comunicação na esfera pública ganhou com os blogues. Ainda não tem uma massa crítica estável, mas já tem uma massa crítica instável.
É um mundo efervescente, com nascimentos e mortes todos os dias, com um mercado rude de opinião, de relações de poder e guerras intestinas», escreveu. O autor de Abrupto (que recebeu mais de 50 mil visitas num mês e meio) conclui: «Às vezes espreme-se tudo num dia e fica pouca coisa, mas o que fica é bom e fica sempre alguma coisa.» O eurodeputado, que, como figura pública, acabou por mediatizar os blogues, realça ainda a «felicidade» dos bloguistas pela posse destes espaços – «eles são a realização de um sonho que parecia inatingível para as gerações de estudantes com pretensões intelectuais do liceu e da universidade: ter uma revista literária, um jornal onde se pudesse escrever o que se quisesse».

Imprensa debaixo de olho
Nem todos estão de acordo com a incursão de jornalistas e de pessoas com acesso aos meios de comunicação no mundo dos blogues. Para Pedro Rolo Duarte, editor do DNA, isso não passa de «um exercício de vaidade». «No dia em que for despedido, faço um blogue. É divertido e um espaço de liberdade muito saudável. Mas acho que uma das maiores virtudes da imprensa é o facto de ser finita no espaço e no tempo. Quem escreve nos jornais tem de saber escolher de entre aquilo que tem para dizer», argumenta.
O sociólogo José Bragança de Miranda concorda com esta perspectiva e afirma convicto: «É o narcisismo que atrai os criadores de blogues que já escrevem noutros espaços.»
Mas as «turras» entre jornalismo e bloguismo não se ficam por aqui. As opiniões são variadas. Há quem considere o segundo uma ameaça ao primeiro. Mas há também quem o encare pela positiva e o veja como um observatório permanente, não só da realidade, como daquilo que se escreve nos jornais. A maior «glória» da blogosfera foi quando o Guardian retirou do seu site uma notícia sobre Paul Wolfowitz, depois de «muito barulho» nos blogues acusando o diário inglês de ter separado do contexto as afirmações do conselheiro de Defesa norte-americano. «É mais uma aceleração do tempo. Vai-nos obrigar a um cuidado que nós, jornalistas, não temos hoje. Vamos estar mais vigiados», assinala José Manuel Fernandes.

Direita vs esquerda
O blogue A Coluna Infame, lançado em Outubro de 2002 pelos críticos literários do DNA Pedro Mexia e Pedro Lomba e pelo colunista de O Independente João Pereira Coutinho, foi o primeiro a dar nas vistas, com os seus textos de inspiração direitista sobre artes, política e literatura. O suficiente para o editor-adjunto do DNA, José Mário Silva, amigo pessoal de Mexia, ter decidido criar um blogue, juntamente com o irmão, Manuel Nunes Silva, como resposta à Coluna Infame. Apareceu então o Blog de Esquerda, a 1 de Janeiro de 2003. «Senti que eles tinham uma importância e uma qualidade de reflexão política muito boa e era preciso equilibrar. Entretanto, surgiram alguns blogues de esquerda bastante bons, mas ainda há três vezes mais blogues de direita do que de esquerda, por razões que ninguém sabe explicar. Eles até criaram uma associação, a União dos Blogues Livres [http://blogues-livres.mirrorz.com]», conta o jornalista.
Tal como a Coluna Infame, o Blog de Esquerda – «sem outras ligações ao Bloco de Esquerda que não a simpatia pelo movimento», frisa José Mário – surgiu com intuitos não exclusivamente políticos. Publica poesia, faz crítica literária e divulgação, mas foi o debate político entre os dois blogues que os catapultou para as páginas dos jornais. Quando a Coluna Infame acabou, a 10 de Junho, na sequência de uma «troca de galhardetes» mais inflamada entre um dos seus elementos e um colaborador do Blog de Esquerda, o acontecimento mereceu referências na imprensa. Mas Pedro Mexia e Pedro Lomba não resistiram muito tempo longe deste universo e já voltaram com o Dicionário do Diabo e o Flor de Obsessão, respectivamente. Enquanto durou, a Coluna teve mais de cem mil visitas e inspirou o aparecimento de inúmeros blogues.
«A explosão de blogues é um acontecimento importante na esfera pública portuguesa.» A opinião é de Pacheco Pereira, que além de Abrupto, criou o Estudos Sobre o Comunismo. E continua, com um exemplo: «A imediaticidade do meio permite uma crítica ou uma reflexão sobre os eventos muito rápida. No caso da conferência de imprensa e da entrevista à RTP de Fátima Felgueiras, vários blogues levantaram no mesmo dia todas as objecções que, uma semana depois, emergiram na comunicação tradicional como se fossem grandes novidades. É verdade que esta imediaticidade também se presta à asneira, mas aí os blogues em nada se distinguem da comunicação tradicional.»

Um país com humor
Na blogosfera, Nuno Jerónimo, 31 anos, João Canavilhas, 37, e Jorge Bacelar, 43, trocam a pele de professores universitários pela de três personagens dos Marretas. Statler, Waldorf e Animal fazem diariamente as delícias de cerca de 600 cibernautas comentando os temas da actualidade com um toque de humor. Na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, ainda ninguém os interpelou por causa do Blogue dos Marretas, mas com a fama que têm é pouco provável que os professores de Sociologia (Nuno), de Comunicação (João) e de Design (Jorge) consigam passar incógnitos. Afinal, eles são os donos de um dos mais divertidos blogues portugueses. Amigos há cerca de 12 anos, os três «marretas» dividem-se na hora da ideologia: Nuno e João à direita, Jorge mais à esquerda.
«Escrever no blogue é estimulante e quase viciante», considera Nuno Jerónimo, um nome que nada diz ao comum dos portugueses mas que já tornou Statler num dos mais famosos e admirados bloguistas. Aliás, neste universo, as figuras mediáticas como Pacheco Pereira têm impacto, mas são uma minoria.
«Acedi ao desafio de uma amiga de infância para fazer uma conversa gramatical a dois», conta André Freitas, 25 anos, um dos autores de Ponto e Vírgula. E o que acontece quando se juntam um ponto sarcástico e uma vírgula mais séria? O resultado é um blogue animado que não deixa escapar os escândalos políticos nem o filme póstumo de João César Monteiro. Ele publicitário, ela galerista de arte, amigos com «vidas mais paralelas que convergentes», encontraram um espaço de conversa entre eles e com a restante «pontuação» que habita a blogosfera. «Pensei que só a minha mãe fosse ler o que eu escrevia. Não tinha noção da real dimensão dos blogues», confidencia André.
A mesma sensação teve a tradutora Carla Hilário de Almeida, 32 anos, quando percebeu que cerca de 300 pessoas seguiam diariamente o seu Bomba Inteligente. Apaixonada pela escrita, Carla não resistiu a inaugurar o seu blogue em Abril, durante a guerra no Iraque. A inspiração para o nome veio da conjuntura internacional. Ali criou um espaço de reflexão e de poesia (há quem lhe gabe as traduções de poemas gregos). «Na blogosfera conhecemos as pessoas pelo fim. Através da escrita, vemos os seus pensamentos e a forma como se exprimem antes do seu aspecto e tudo o resto», realça.

Proibido escrever com os pés
Nelson de Matos olha com muito interesse para os bloguistas anónimos. Habituado a muitas leituras, o editor da Dom Quixote diz que os blogues têm, às vezes, «uma surpreendente qualidade literária». «Essa é também uma razão porque ali estou», sublinha. «De repente, aparecem a escrever e a intervir pessoas, algumas delas bastante jovens, com qualidades de escrita e reflexão a que é bom estar atento. Pode acontecer que um dia eu decida desafiar um ou outro para um passo mais decisivo», promete.
«Se os editores forem espertos, ficam atentos ao que se está a passar na blogosfera», frisa José Mário Silva, dando um exemplo: «A Memória Inventada tem matéria mais do que suficiente para fazer um livro de contos e crónicas francamente melhor do que a maior parte das coisas que são hoje publicadas em Portugal.» Francisco José Viegas não tem dúvidas: «Uma das grandes surpresas foi a revelação de gente que escreve muito bem e que sabe exactamente o que quer dizer, além de ter opiniões válidas.»
Miguel Esteves Cardoso vai ainda mais longe, dizendo que os blogues «envergonham a prosa paralisada que hoje passa por escrita – e por português – nos jornais». José Manuel Fernandes reconhece que a escrita na imprensa está «um pouco empedernida». Diz o director do Público: «O sistema anda um bocado fechado ao aparecimento de pessoas com imaginação e ritmos de escrita diferentes. Temos dificuldade em encontrar e aceitar alguém não consagrado que não tenha o seu público assegurado.»
Com centenas de visitas diárias, aos blogues portugueses não faltam leitores fiéis. Quando Pedro Mexia regressou à blogosfera com Dicionário do Diabo, a comunidade de bloguistas vibrou de emoção. E lá voltou o crítico literário às noitadas à frente do computador, para afirmar as suas ideias e se deleitar com as polémicas da blogosfera. «Se arranjasse um patrocinador, tornava-me num profissional dos blogues. Não fazia mais nada.» Quem sabe o que o futuro vai reservar aos blogues?
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