Blog Clipping
domingo, setembro 28, 2003
 
Fonte: Público, 22 de Setembro de 2003

Blogues para a Cidadania
Segunda-feira, 22 de Setembro de 2003

%P.F.

Após a desistência de Pacheco Pereira e a doença do Blog de Esquerda, o painel sobre cidadania e participação ficou restringido a João Oliveira, do Notas entre Aveiro e Lisboa, e a João Nogueira, do Socio[B]logue. Este começou por realçar que a utilização dos blogues nestas componentes são experiências recentes, pelo que existem mais perguntas do que respostas. São novos meios que estão a reequacionar os meios tradicionais, obrigando-os a reinventarem-se, nomeadamente na questão da interactividade - exemplificando com os fóruns que as televisões estão a abrir ao público para participarem por mensagens de telemóvel.

Mas se "os blogues são tão atractivos para pessoas que não usam meios mais interactivos - como o IRC", "a democracia electrónica é um mito", afirmou. Enquanto os média tradicionais servem como filtro de opiniões e expressões públicas, "os blogues podem ser mais violentos e anónimos do que os outros meios tradicionais".

Em termos de cidadania, existem duas teses em confronto, defendeu João Nogueira: a teoria prevalecente da amplificação da cidadania - em que eles permitem uma maior interactividade entre poderes eleitos e cidadãos - e a teoria da exclusão, em que só os que têm acesso a estas ferramentas se podem pronunciar sobre a vida pública, criando um maior fosso face aos que a elas não têm acesso. "São retóricas", explicou, "tendem a esconder o que os blogues têm de novo e levantam novas questões a que se tem de responder".

Uma delas, elaborada a partir da sua própria análise do fenómeno, tem a ver com o género feminino estar tão ausente dos debates políticos na blogosfera nacional. No geral, com mais acesso a informação e uma consequente maior formação para a cidadania, "aumenta a participação cívia, social e política". E, nesse sentido, há oportunidades para os blogues locais ou regionais, nomeadamente na difusão de mensagens cívicas, na criação de grupos de pressão, numa unidade de esforços, porque eles estão naturalmente mais atentos a essas questões locais, salientou João Oliveira.

Porque os blogues são um espaço credível, a democracia electrónica tem a ganhar ao existir mais informação, participação e independência - "são uma arma fortíssima como elemento de participação cívica e forma de pressão na vida real", referiu.

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Fonte: Público, 22 de Setembro de 2003

Ferramenta de Aproximação no Ensino
Segunda-feira, 22 de Setembro de 2003

P.F.

Os blogues são úteis no ensino, a julgar pelas experiências divulgadas no I Encontro Nacional de Weblogs, num painel dedicado ao assunto. Uma maior interactividade no lado pedagógico e uma maior aproximação entre alunos e professores são alguns dos seus triunfos. A interactividade é essencial no lado pedagógico e na organização do curso, permitem ainda disponibilizar informação para as aulas, mesmo que nem todos os alunos os usem, como referiu Rogério Santos, do Teorias da Comunicação.

"É um ponto de apoio das aulas", refere também Fernando Zamith, do JornalismoPortoNet, mas também servem como suporte de publicação a trabalhos de alunos. Com algumas vantagens: alguns média podem aí descobrir novos talentos ou eles próprios fomentarem iniciativas de autoemprego.

E, contrariando algumas ideias feitas, "os alunos passam a ensinar os professores, sobre questões técnicas", como lembrou Manuel Pinto, do Aula de Jornalismo. Diferente do ambiente universitário é o caso da escola secundária de Minas da Borralha, em Montalegre. Numa terra onde "as únicas filas de trânsito são as do gado que regressam às cortes", como explicou Luís Sousa, o blogue Gente Jovem permitiu uma experiência partilhada entre meia dúzia de professores e cerca de 30 dos mais de 200 alunos, que será repetida este ano escolar.

Os blogues, segundo aquele professor, permitiram uma familiarização com as tecnologias de informação e comunicação - "o que é útil para o ensino" -, uma aproximação entre os alunos e os professores porque "ambos estão no mesmo patamar, não há estrado e isso também desinibe os alunos, e deixa-os serem criativos, desenvolvem um espírito crítico".

Em termos de resultados práticos junto dos adolescentes, Luís Sousa apontou uma melhoria das capacidades da leitura, escrita e organização de ideias mas também uma valorização da sua identidade e das raízes, pelo confronto com ideias e realidades diferentes. "Há uma construção colectiva de saberes, um sentimento de partilha muito positiva na integração de alguns alunos."

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Fonte: Público, 22 de Setembro de 2003

I Encontro Nacional sobre Weblogs junta meia centena de 'bloggers'
Escrever Sim, Discutir Não

Segunda-feira, 22 de Setembro de 2003

Pedro Fonseca

A blogosfera nacional poderá contar com mais de 2 mil blogues, nem todos activos; mas, quando se trata de se encontrarem fisicamente, apenas meia centena resolve marcar presença. Foi o que sucedeu na passada quinta e sexta-feira, no I Encontro Nacional sobre Weblogs, realizado na Universidade do Minho, em Braga. "A blogosfera é relativamente grande mas é mais fácil fazer blogues do que falar sobre eles", sintetizou Manuel Pinto, principal organizador do Encontro e docente na área de jornalismo daquela universidade.

Entre a contagem inicial de 174 blogues realizada em Janeiro pelo Blogs em .pt e os mais de 2300 contabilizados actualmente pelo Bloco-Notas - e apesar de existirem blogues nacionais desde 1999 -, um facto incontestável para a sua dinamização mediática e motor de crescimento dos blogues em Portugal foi o aparecimento destes diários abordando a actualidade política, desde a já extinta Coluna Infame ao Abrupto, de José Pacheco Pereira, que, em Março, escreveu no PÚBLICO sobre esta temática. O crescimento vai continuar, prevê António Granado, jornalista do PÚBLICO e "blogger" (termo inglês para definir os autores de blogues), porque só neste Verão foram criados mais de mil.

São muito poucos, comparando com os três milhões que se calcula existirem em todo o mundo - tantos quantas as páginas Web indexadas pelo motor de busca Google - mas, mesmo assim, "é muito para ler de manhã", como referiu José Luis Orihuela, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra. "Nunca tivemos de ler tanto para escrever tão pouco", explicou, e os "bloggers" "estão a aprender a ler e a escrever de novo; não é metáfora, estão a aprender a escrever com hiperligações e isso é uma nova alfabetização". Por outro lado, "a blogosfera, não a Web, é a maior fábrica de conhecimento dos nossos dias", referiu.

Apesar do potencial exagero, a verdade é que os blogues são mais do que uma moda. Usando o trabalho de Everett Rogers, de 1995, A. Granado explicou como a difusão das inovações se processa com alguma lentidão junto de certos grupos bem definidos. Os primeiros a adoptá-las são os "inovadores", que não passam de 2,5 por cento. Seguem-se os 13,5 por cento de "early adopters", a "early" e a "late majority" - ambas com 34 por cento cada - e finalmente os "laggards" ou "atrasados", que representam os restantes 16 por cento.

"Em Portugal, ainda estamos numa fase da inovação e a Internet ainda é uma ferramenta dos info-ricos e dos países mais desenvolvidos", lembrou Granado. Nesta fase, as principais características dos blogues nacionais é a de serem muito opinativos e pouco informativos, funcionando a grande maioria em circuito fechado. Há também poucas referências para fora da Internet portuguesa - gerando fenómenos como o desencadear de polémicas com outros blogues nacionais mais conhecidos para assim se obterem ligações de retorno e uma maior visibilidade, pelo menos temporária mas que serve como chamariz para esse blogue. E há uma ausência de práticas jornalísticas neles, referiu ainda. Nesse sentido, entrando numa polémica sobre se os blogues são ou não uma ameaça ao jornalismo, afirmou que nunca os viu como tal, até porque "rarissimamente aparece informação original".

Em termos mais gerais, no entanto, Orihuela considera que os blogues, sob as diferentes designações de "nano-edição" ou "auto-média" permitem aos "utilizadores serem comunicadores públicos - é a primeira vez na história da imprensa e os blogues são o mais importante nos últimos 17 anos, desde o aparecimento da Web".

Para o investigador espanhol, "o que mudou foi o conceito de periodicidade" e, "na sua passagem para o tempo real, perde-se o espaço de reflexão mas ganha-se em dinamismo e conversação, num sistema global de comunicação com correcções de textos em tempo real" aquando da descoberta de erros. Mas não só, porque "a agenda de temas relevantes nos blogues ultrapassa largamente o terreno comum dos média tradicionais", muitas vezes usando fontes alternativas a esses média.

Olhando para o futuro dos blogues nacionais, vai-se assistir ao aparecimento de mais blogues anónimos, seja por alguém que quer dizer mal de outrem como para ver se alguns média pegam nessas histórias, antecipa António Granado. Os "moblogs" - blogues mantidos a partir das capacidades multimédia dos telemóveis - deverão também aparecer por cá, "com invasão pura da privacidade", exemplificando com casos de figuras públicas registadas em sítios onde não deviam estar a horas menos convenientes ou com companhias menos aconselháveis.

Finalmente, uma tendência também de futuro será o aparecimento de blogues ligados ao ensino e não só no ensino do jornalismo, como sucede hoje. Esta posição foi também defendida por José Luis Orihuela, quando apresentou algumas sugestões para o futuro da blogosfera em Portugal: "O enfoque correcto é estar na origem da mudança, nomeadamente nas universidades". Defendeu ainda a existência de directórios temáticos e actualizados, sistemas de "blogtracking" para se conhecer o que está a ser mais debatido entre blogues e "rankings", com prémios para os melhores blogues, a criação de blogues comunitários em português e inglês, a adopção do que já demonstrou ter êxito lá fora e, finalmente, aproveitar as sinergias, nomeadamente em termos linguísticos com o Brasil.

Entre blogues com um bom grafismo e maus conteúdos ou o contrário, Orihuela advoga que "as pérolas com conteúdos fortes e bom grafismo tornar-se-ão os blogues de culto".

N.E. - Pedro Fonseca foi responsável pelo Blogs em .pt, participou na organização do evento e nas sessões (não relatadas) sobre "Weblogs, jornalismo e comunicação" e "Weblogs e sociedade"

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Fonte: Público, 20 de Setembro de 2003

Jornalistas Terão Que Ser Mais "Polivalentes"

Por ISABEL FREIRE
Sábado, 20 de Setembro de 2003

No século XV, quando surgiu a imprensa, os monges copistas passaram a dedicar-se ao fabrico de cerveja, já que os textos que demoravam uma vida a copiar eram agora reproduzidos em minutos. É graças aos monges copistas e à imprensa que a Europa tem agora a melhor cerveja. Esta parábola (não verídica) foi usada pelo "blogger" espanhol José Luis Orihuela, para traduzir o desafio que os "weblogs" colocam aos jornalistas.

A pergunta deixada por Orihuela, no Encontro Nacional sobre Weblogs, na Universidade do Minho, em Braga, ontem e anteontem, foi: "Qual a cerveja dos jornalistas?" Não existe ainda uma resposta, mas ela pode passar por alguma "polivalência", que permita aos profissionais de informação trabalharem para diferentes suportes, e na interactividade.

Neste momento, em Portugal há cerca de 2300 "weblogs" - a nível mundial são cerca de três milhões -, uma espécie de diários (logs) disponíveis na Internet (web), cujo diminutivo mais usado é "blogs". Trata-se de um fenómeno que duplicou o seu número de ocorrências a partir de Junho deste ano, o que, para o "veterano da blogosfera" António Granado (Ponto Media), significa que os "weblogs" "são mais que uma moda" e ainda "conhecerão uma grande expansão". Este desenvolvimento poderá ser realizado mesmo em termos tecnológicos, nomeadamente com os "moblogs" - weblogs móveis actualizáveis a partir de um telemóvel e uma câmara.

Segundo Orihuela (e-Cuaderno), "até agora, a identidade profissional de cada jornalista estava marcada pela natureza e tipo de linguagem do seu suporte". Este professor de produção multimédia da Universidade da Corunha e de Navarra argumenta que o jornalista "terá que ser capaz de falar sobre uma matéria em qualquer tipo de plataforma de comunicação, passando a ligar-se a um conteúdo e não a um meio". Esta é a adaptação exigida pelas "bitácoras" (a palavra espanhola para "weblogs"), que vêm inverter a hierarquia tradicional de poder, como produtoras de reacções por parte dos "media".

"O jornalismo nos 'blogs' é inexistente

No mesmo sentido, o coordenador do evento, Manuel Pinto (Aula de Jornalismo) advoga que os weblogs "vêm lançar o desafio da interactividade". Segundo este ex-jornalista, "nos meios tradicionais, a palavra é considerada um privilégio, mesmo face à sede de participação das pessoas. Os 'media' têm que fazer um esforço, não só de dar um espaço às pessoas, mas também de procurá-las para as ouvir sobre orientações editoriais."

Em Portugal, a proliferação não é de "blogs" informativos, mas opinativos. "O jornalismo nos 'blogs' é inexistente. Não há informação original, mas pistas de leitura", nota António Granado. Por esta mesma razão Fernando Zamith (JornalismoPortoNet), fazendo eco da voz de outros intervenientes, afirma que "quem tem razões para temer esta concorrência da blogosfera não são os jornalistas, mas sim os comentadores e colunistas". São afirmações e comentários que, no espírito do encontro, não podiam deixar de ser divulgadas na internet, em encontrodeweblogs.blogspot.com, um blog criado para todos os participantes deixarem o seu texto, ou seja o seu "post"..

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Fonte: TSF, 18 de Setembro de 2003

SÉCULO XXI

Encontro Nacional sobre Weblogs
O significado de weblog está para além da palavra. É verdade que resulta da possibilidade de qualquer cibernauta colocar informação na Web através da internet, mas a forma de explorar esta possibilidade ultrapassa largamente o simples diário. Ao contrário dos velhos diários fechados a cadeado, agora eles estão abertos a todo o mundo e até se sujeitam a comentários.

12:50
18 de Setembro 03
Francisco Amaral


Este Encontro de Weblogs em Braga, tem também um blog, como se diz na gíria. Trata-se da área escrita do Encontro. A ideia é possibilitar aos participantes no Encontro, quer aqueles que não têm possibilidade de participar, nos próximos dias, forma de intervir no debate sobre a blogosfera, as suas potencialidades, realizações e riscos.

Para que isto se torne realidade, a organização decidiu divulgar publicamente o login e a password de acesso ao blog do Encontro, tornando-o assim numa experiência partilhada completamente aberta.

Para os de fora, que é como quem diz, para os não bloguistas que queiram participar, entra-se pela página, no login colocar a palavra encontro e na password braga. Abre-se assim a janela mágica. Depois é escrever, sem se esquecerem de publicar, o que se faz muito facilmente clicando em "post and publish".

Um novo fenómeno em debate, hoje e amanhã em Braga e na internet.


Século XXI
Dias úteis, 12h50m

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Fonte: TSF, 17 de Setembro de 2003

BRAGA

Bloggers num encontro cara a cara

Pela primeira vez, os bloggers portugueses vão sair do ciberespaço para se encontrarem cara a cara. O objectivo é discutir, na Universidade do Minho, a actual blogosfera e as potencialidades deste novo meio de comunicação.

18:45
17 de Setembro 03
Patrícia Maia


A blogosfera portuguesa e internacional, os weblogs e a cidadania, o ensino e a investigação são alguns dos temas que vão estar em cima da mesa no encontro que decorre em Braga de 18 a 19 de Setembro.

O principal objectivo é discutir «as consequências que os weblogs podem ter para a sociedade», explicou à TSF.Online o professor Manuel Pinto, do departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho (UM).

Blogs, mais do que uma moda?

O ciberespaço português assistiu a um «boom» de weblogs ao longo deste ano. Em Janeiro os blogs nacionais não eram mais de 170. Agora são mais de dois mil.

Manuel Pinto não nega que esta explosão resulta de um fenómeno de moda, mas sublinha que isto aponta para uma crescente «multiplicação de espaços de expressão, de fontes e de possibilidade de tomar a palavra».

O professor - que mantém o blog Jornalismo e Comunicação, com outros colaboradores do Mestrado em Informação e Jornalismo da Universidade - considera que este fenómeno tem um «enorme potencial do ponto de vista cívico, cultural e económico».

Cidadania e comunicação

No primeiro dia, as intervenções estão reservadas a António Granado (do blog Ponto Media) que vai dissertar sobre o Panorama da blogosfera em Portugal, e a José Luis Orihuela (e-Cuaderno) que faz uma avaliação do Panorama espanhol e europeu da blogosfera.

Weblogs, cidadania e participação; Weblogs, ensino, aprendizagem e investigação e por fim; Weblogs, jornalismo e comunicação, são os temas que vão marcar o segundo dia do encontro.

José Pacheco Pereira, os autores do Blog de Esquerda, e Francisco Amaral, responsável pelo programa da TSF Íntima Fracção e autor de um blog homónimo, são alguns dos bloggers que foram convidados a intervir sobre estes temas.

Os Blogs e o ensino

Os blogs no ensino e a investigação vão ser outro ponto forte deste encontro. Para o departamento de Ciências da Comunicação da UM a blogsfera não é novidade. Desde meados de 2002, que os alunos do terceiro ano de jornalismo mantêm o blog Aula de jornalismo.

Este espaço serve de «plaforma de publicação e de discussão dos alunos. É um instrumento de aprendizagem e também um incentivo à publicação de trabalhos», explica Manuel Pinto.

Dia 19, para encerrar o evento, todos os participantes são convidados a discutir os «horizontes da blogosfera». Na área do encontro há computadores ligados à internet para que os convidados possam, no intervalo e no fim da discussão, actualizar os seus weblogs.


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Fonte: TSF, 19 de Setembro de 2003

INTERNET

Blogs, uma moda que veio para ficar

O que leva mais de três mil portugueses a publicar uma espécie de diário online? E de que maneira os blogs contribuem ou interferem na nossa sociedade? A estas e a outras perguntas tentaram responder os blogers do encontro que terminou, sexta-feira, em Braga.

23:40
19 de Setembro 03
Patrícia Maia

Apesar das ausências verificadas no painel de convidados, os blogers do encontro que decorreu quinta e sexta-feira em Braga acenderam algumas luzes importantes para perceber o fenómeno que só este ano chegou em força a Portugal.

José Mário Silva (Blog de esquerda), José Pacheco Pereira (Abrupto) e Francisco Amaral (Íntima Fracção), que compunham grande parte do painel do segundo dia, não puderam, por diversos motivos, deslocar-se a Braga.

Da intervenção do espanhol José Luís Orihuela (e-cuaderno) fica um conceito curioso: se Guttemberg tivesse nascido hoje, em vez da imprensa teria inventado os blogs.

Contra a ideia de que os blogs são apenas uma moda, Orihuela afirma que «a natureza da web e dos weblogs resulta numa publicação à escala mundial sem editores, mas ancorada num processo diário de 'revisão pelos pares' e de comentários de leitores».

Ou seja, o blog criou um novo conceito de comunicação. Dá ao seu autor a possibilidade de partilhar ideias - boas ou más, reais ou imaginárias - com os milhões de potencial cibernautas que circulam pela net. Na blogosfera, não há editores, nem chefes de redacção, nem critérios jornalísticos a cumprir. É pensar, escrever e publicar.

Simples, mas não para todos

Criar um blog é quase tão simples como abrir uma conta de email na internet. Basta aceder a um dos muitos servidores que fornecem blogs - como o português weblog.com.pt, o norte-americano new.blogger.com, ou o brasileiro webloger.terra.com.br, para mencionar apenas alguns - escolher username e password e seguir as instruções fornecidas.

Um processo, aparentemente democrático e acessível a qualquer um, não fosse o problema da infoexclusão, como salientou António Granado (Ponto Media), a quem calhou a tarefa de dissertar sobre o panorama da blogosfera nacional.

É importante não esquecer que este maravilhoso mundo da publicação em tempo quase real, «ainda é um fenómeno de info-ricos», sublinhou o jornalista do «Público».

De facto, percorrendo alguns dos blogs mais acedidos no nosso país, percebemos que esta nova forma de publicação está confinada a uma elite. A possibilidade de editar e publicar informação para o (cada vez mais) vasto público da internet, seduziu não só aqueles que nunca se tinham dirigido às massas mas também alguns «famosos» com acesso directo aos meios de comunicação.

Embora não tenha podido deslocar-se a Braga, Francisco Amaral explica no site do encontro que o blog Íntima Fracção «surgiu porque o programa (de rádio) entrou no 20 º ano de emissões e (...) era altura de contar histórias que não cabiam na estética do programa».

Quando os blogs são notícia

O eurodeputado do PSD Pacheco Pereira, que tem uma coluna de opinião no «Público» e participava no programa Flashback da TSF (com o socialista José Magalhães), mantém o blog Abrupto desde Maio.

Esta semana, no Abrupto, Pacheco Pereira comparou Paulo Portas a Le Pen , por causa do discurso que fez sobre imigração na rentreé do CDS-PP.

O porta-voz dos democratas cristãos, António Pires de Lima, não gostou e respondeu a Pacheco Pereira classificando os seus comentários como «disparates». A «guerrilha» continuou e acabou por saltar para as páginas dos jornais.

O Gato Fedorento - mantido por Tiago Dores, Ricardo Araújo Pereira e Zé Digo Quintela, das Produções Fictícias - foi ainda mais longe. Não só foi notícia nas páginas dos jornais, como vai ser transformado num programa de televisão.

Miguel Esteves Cardoso e Francisco José Viegas são outras personalidades que conquistaram um cantinho da imensa rede que é a internet.

Do anonimato para o estrelato

Muitos blogs são conhecidos porque os seus autores são famosos. Mas também há blogs de autores anónimos que atingiram ao estrelato. Apesarem da pouca credibilidade, já que a fonte não pode ser confirmada, estes blogs atraem centenas de visitas diariamente, e claro, a atenção da imprensa.

É o caso do blog Muito Mentiroso. O autor desta página aproveita a total liberdade de expressão oferecida pela net para «libertar» «informações» (?) polémicas sobre o processo Casa Pia.

Quinta-feira, a SIC Noticias divulgou uma entrevista feita através de email ao suposto autor da página. Desde que foi criado, o Muito Mentiroso registou quase 200 mil acessos.

O Meu Pipi é outro exemplo de fama anónima. O blog alcançou um enorme sucesso com as crónicas «a pisar o risco do mau gosto», como o próprio autor afirma. O «Expresso» dedicou-lhe uma reportagem que inclui uma entrevista ao homem por trás da página, sem nunca revelar a verdadeira identidade do autor.

Por tudo isto, parece que os blogs vieram para ficar, com toda a sua diversidade. Cabe então ao leitor distinguir o trigo do joio e escolher o blog que mais lhe convém, para entreter, informar, ou desinformar.


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Sic Online, 18 de Setembro de 2003

Registo mais famoso de Portugal chama-se "Muito Mentiroso" e fala do processo Casa Pia

O "blog" mais famoso de Portugal

Os "blog's" são registos pessoais na Internet e exploram todo o tipo de assuntos. Qualquer pessoa pode, de forma gratuita, ter uma página na Internet. O problema pode surgir quando fontes anónimas fazem acusações graves e esse "blog" é visto por milhares de pessoas. É o caso do "Muito Mentiroso" que avança uma teoria muito própria sobre o processo Casa Pia.


Luís Manso e Marisa Caetano Antunes

2003-09-18 10:12

Quem entra nas páginas do mundo online encontra um novo Universo: os weblogs. Pelo mundo fora existem milhões. São registos pessoais diários onde se exploram todo o tipo de assuntos desde fotografia, poesia, literatura, política ou até mesmo detalhes de uma vida íntima ou críticas políticas e sociais.

Durante a campanha militar no Iraque houve mesmo um registo de guerra feito a partir de Bagdad. Um diário de quem via as bombas cair e tinha histórias de um dia-a-dia numa cidade que estava no centro das atenções do Mundo.

Sobretudo nos últimos meses, a moda dos "blog's" também chegou a Portugal e conta já com centenas de adeptos. Contas feitas podem já ser dois mil os cibernautas portugueses que aderiram aos diários virtuais.

Entre ilustres anónimos, há reconhecidas figuras públicas, como é o caso de Pacheco Pereira. O eurodeputado mantém online as páginas "Abrupto" e "Estudos sobre o Comunismo".

Para quem quer rir, há muito por onde escolher, como é o caso do "Gato Fedorento", projecto que nasce da imaginação de quatro autores dos textos das Produções Fictícias.

Mas nem todos os que andam neste meio se identificam e fala-se mesmo de um lado perverso do mundo dos Weblogs.

A coberto de anonimato, podem ser lançadas calúnias e mentiras, colocando em causa a imagem de outras pessoas.

O "blog" mais famoso de Portugal

Um dos registos pessoais electrónicos mais falados do momento intitula-se "Muito Mentiroso" e está a gerar polémica por várias razões: constrói uma verdadeira teia de alegadas mentiras e casos de corrupção à volta do processo Casa Pia, divulga questões, algumas intrigantes sobre o caso da pedofilia. Fala em nomes importantes da sociedade portuguesa e publica as opiniões dos internautas que querem manifestar-se.

As teses são de um grupo de pessoas que, segundo o documento publicado no blog "Muito mentiroso", integra profissionais das polícias e dos serviços secretos portugueses. Verdade ou mentira. Ninguém sabe. É aí que reside o problema destes sites virtuais, que podem ser criados por qualquer pessoa.

A SIC conseguiu chegar ao responsável pelo responsável do blog que, sob o anonimato, diz ser apenas um mero veículo para a publicação de textos.

"O primeiro documento onde o GOVD (Grupo Operacional de Vigilância Democrática) se dava a conhecer, chegou-me, como todo o restante material, por carta, sem remetente. (…) como não sabia o que fazer com aquilo e como os blogues estão na moda, resolvi ir transcrevendo o que me fosse chegando para o "Muito Mentiroso". Acho que ao perceber que eu dava andamento às cartas, a pessoa deve ter-se sentido encorajada a continuar a enviar-me mais coisas", explica o responsável pelo blog mais famoso de Portugal.

Em relação ao processo Casa Pia, o blog "Muito Mentiroso" faz várias denúncias: arguidos inocentes, dados viciados ou destruídos, corrupção, pedófilos que são encobertos, ligações ao tráfico de droga, chantagens, mentiras pagas. Tudo explicado ao pormenor numa teoria que para alguns é loucura. Para outros nem tanto.

Questionado sobre o motivo que leva alguém a ser um mero veículo para alimentar verdadeiras teorias da conspiração, o responsável pelo blog "Muito Mentiroso" responde:

"Porque é viciante. Constatar que centenas de milhares de pessoas acederam ao blog na última semana e meia deixa-me doentiamente orgulhoso. Talvez eu seja doente".

Mas então um nova pergunta impõe-se: se a função é de mera publicação de informações, porque é que não dá a cara ou o nome? E mais uma vez, a resposta.

"Porque acho perigoso vir a pagar por uma coisa que não é da minha responsabilidade. Se viessem a perguntar-me quem está por trás disto teria de responder. Não sei. E embora respondesse com verdade, ninguém acreditaria".

Em que se baseiam as teorias? Que fontes estão por detrás deste blog, e que tipo de credibilidade têm são perguntas que ficam sem resposta.Verdade ou mentira, o blog existe. Pode ser consultado por qualquer pessoa e está a incomodar muita gente.
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Fonte: Diário de Notícias, 20 de Setembro de 2003

O mito da democracia electrónica

FERNANDO MADAÍL
As ausências de José Pacheco Pereira, que garantiu a fama à blogosfera nacional com o seu Abrupto, e de José Mário Silva, do Blog de Esquerda, inviabilizaram a polémica que poderia surgir, ontem, em Braga, no painel cidadania e participação do I Encontro Nacional sobre Weblogs, promovido pela Universidade do Minho.

A influência do Abrupto, como frisaria João Nogueira, do Socio[b]logue, é tão grande que se podem analisar alguns conceitos só a partir dessa página. Um é «o mito da democracia electrónica» (e-democracy), porque, além da «teoria da exclusão» cibernética (em aparente confronto com a tese da «amplificação da cidadania»), há também a estruturação hierárquica dos weblogs.

O número gigantesco de visitas do Abrupto (mais de 165 mil) _ outro «nó» de referência na rede é, por exemplo, o Aviz, de Francisco José Viegas _ cria a capacidade de promover rapidamente um novo weblog «à I Divisão», frisa João Nogueira, citando a recente popularidade do Glória Fácil. Uma das características deste universo é precisamente a auto-referência, pois os autores destes «diários pessoais» públicos registam listas dos blogs preferidos ou citados.

Além disso, sustenta o autor do Socio[b]logue, qualquer tema levantado no Abrupto está a ser discutido em cem outros blogs no dia seguinte, o que torna inviável acompanhar todo o desenvolvimento dos comentários ao post, já que o universo português, do Íntima Fracção a O Meu Pipi, estima-se em mais de dois mil bloggers.

Esta questão levanta outras duas: a info-overload, com o excesso de número de páginas para ler cada dia (embora, em seu entender, ao contrário do que sucedia antes na Net, a informação nos blogs seja transformada em conhecimento), e o speed-writing, em que o desejo de comentar rapidamente reduz o tempo para reflectir. E há ainda «a ansiedade do próximo post», com João Nogueira a dar o exemplo de Ivan Nunes, autor de A Praia, que terá ironizado: «Agora, já não tenho vida própria, mas matéria para o blog».

João Nogueira considera que o «problema» da cidadania só se levantou relativamente a esta nova forma de comunicação mediada por computador (e não com os «antigos» IRC ou o ICQ) por causa das vantagens desta ferramenta, em que avulta o atractivo de «quase livro» e a sua grande interactividade, mas também devido à mediatização externa de algumas figuras, como Pacheco Pereira.



PARTICIPAÇÃO E ENSINO

O weblog Notas entre Aveiro e Lisboa, de João Oliveira, mantém a objectividade do jornalismo e o nível de confiança do leitor, contextualiza notícias e divulga documentos na íntegra, numa tentativa de ser um factor de participação cívica regional. Rogério Santos criou o Teorias de Comunicação para estabelecer empatia com a sua turma de universitários, uma Escola de Montalegre fez o Gente Jovem para familiarizar os alunos com as novas tecnologias e Fernando Zamith recorre ao blog JornalismoPortoNet no ensino do jornalismo online.


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domingo, setembro 21, 2003
 
Fonte: O Primeiro de Janeiro, 18 de Setembro de 2003

Universidade do Minho debate o novo fenómeno
Weblogs podem alargar lusofonia

O investigador universitário espanhol José Luós Oriluela disse ontem, em Braga, que Portugal deve aproveitar as sinergias linguísticas que resultam do espaço lusófono, em especial do Brasil, para criar uma comunidade forte de utilizadores de «weblogs».


Segundo o investigador, só "no Brasil há 300 mil criadores de «blogs», sinergia a aproveitar para a criação de uma comunidade de língua portuguesa".



Um «weblog» é uma página na Internet que se cria em cinco minutos e que é tão fácil de trabalhar como uma folha branca A4. É a nova moda do universo cibernético com quase três mil adesões em Portugal, entre as quais figuras como o eurodeputado Pacheco Pereira.



Na Universidade do Minho, onde ontem iniciou o primeiro encontro nacional sobre «Weblogs», José Luós Oriluela defendeu que a expansão do fenómeno no País deve passar pela criação de directórios actualizados, o estabelecimento de um sistema de «ranking», e pela escrita de «blogs» em português e inglês


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Fonte: Correio do Minho, 18 de Setembro de 2003

Cibernautas do Minho comunicam sem barreiras

Têm os nomes mais curiosos e caracterizam-se pela liberdade de expressão e pela interactividade. Os blogs, páginas pessoais na Internet, suscitam o interesse de muitos alunos e professores da Universidade do Minho. A instituição acolhe, hoje e amanhã, o primeiro encontro nacional e um dos primeiros a nível europeu. sobre esta nova forma de comunicação.
José Paulo Silva

Crime na sociedade columbófila”, “Jack’s Blog”, “Xposure Fotocafé”, “Morte aos Feios”, “Anda ma Cassar”, “Sociedade de Vénus e Apolo”. “Real News”, “Ananke”, “Netnotícias”, “Devaneios de um embrião”, “Insólito”, “Blog de Publicidade”, “E Tudo era Possível”, “Janela Amarela”... A diversidade das designações das quase três dezenas de blogs criados na região minhota dá a ideia do quão eclético é o conteúdo destas páginas pessoais que têm surgido em grande número na Internet.
Este fenómeno de comunicação, que é analisado hoje e amanhã, na Universidade do Minho, no primeiro encontro nacional sobre Weblogs, tem uma expressão significativa na região, fruto, precisamente, do interesse manifestado por alunos e professores universitários, muitos deles ligados à área da Comunicação Social.
Elisabete Barbosa, ex-aluna daquela licenciatura, criou, em Março de 2002, o “Jornalismo Digital”, porventura o primeiro blog minhoto.
A antiga jornalista, um dos membros da organização do 1º Encontro Nacional sobre Weblogs, tomou contacto com a comunidade blog no âmbito de uma investigação de mestrado sobre as mudanças que a Internet provocou na actividade jornalística.
Quando se encontrava à procura de informação sobre os atentados a 11 de Setembro de 2001, Elisabete Barbosa entra no blog “Cris Dias”, criado por um ope- rador informático radicado na altura nos Estados Unidos da América.
Após conhecer o blog “Ponto Media”, de António Granado, um dos mais antigos em Portugal, a aluna da Universidade do Minho decide ela própria criar o “Jornalismo Digital”, como proposta de trabalho final de um seminário do mestrado sobre Ciências da Comunicaçao - especialização em informação e jornalismo.
Os colegas de mestrado de Elisabete Barbosa começaram a enviar informação para aquela página electrónica, tendo, pouco tempo depois, decidido criar novo blog, com o apoio do professor Manuel Pinto, ou -tro dos entusiastas do Encontro que reúne bloggers nacionais e estrangeiros, hoje e amanhã, em Braga. “Jornalismo e comunicação” é o nome do novo blog. A partir de então, outras páginas do género surgem no ciberespaço académico, com conteúdos mais diversificados.

devaneios na net
“Devaneios de um embrião”, criado por Ana Machado, trata, por exemplo, de publicidade. “Ananke” é um blogue literário lançado por Hugo Real. “Sociedade de Vénus e Apolo”,versa sobre o erotismo e “a liberdade erótica nas suas diferentes encarnações : física, estética e filosófica”.
A comunidade blogger minhota conta também com “Xsopure Fotocafé”, um blog de fotografias de Pedro Guimarães e “Morte aos Feios”, um “blog sobre a vontade do poder”.
Há quem escreva de um tudo um pouco neste tipo de diários na Internet. É o caso de Hugo Gama, autor de “Insólito”, blog sobre “A Universidade, casa... a televisão, computador...O livro, jornal”.
“Gente Jovem” foi criado com objectivos pedagógicos por professores e alunos do terceiro ciclo de uma escola do concelho de Montalegre.
Luís Sousa e Filipe Brito oferecem à comunidade da Internet o blog “Intervenções Sonoras”, onde apresentam novidades musicais: novos CD, concertos e outras informações de interesse.
Vasco Eiriz concebeu o blog “Empreender”, onde apresenta ideias e recursos sobre gestão, estratégia e marketing.
Elisabete Barbosa entende que o sucesso deste novo modelo de comunicação tem sobretudo a ver com a facilidade com que se cria um blog.
Para fazer um blog basta encontrar um dos “sites” com software para a construção de diários virtuais e hospedagem gratuita .
O mais popular é o “Blogger”, um site norte-americano recentemente comprado pelo Google.
Através do sistema “Blogger” tem-se acesso a vários formatos pré-definidos destes diários electrónicos.
Outra das vantagens da blogsfera é a “interactividade”, já que muitos dos blogs permitem aos visitantes a apresentação de comentários.
A autora de “Jornalismo Digital” e “Blog Clipping” confessa que, “no início, era muito viciada, ia mais do que uma vez por dia ler os comentários” e conhecia praticamente todos os blogs portugueses
Agora, confessa-nos Eli- sabete Barbosa, é praticamente impossível consultar com regularidade os cerca de mil blogs que se mantêm mais ou menos activos em Portugal.

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Fonte: Jornal de Notícias, 18 de Setembro de 2003

Pouco interesse comercial pelos blogs
Os blogs nasceram com o espírito de um diário, produzido na intimidade, embora divulgado à escala planetária. Sem intenções comerciais, portanto. Todavia, os mais atentos logo encontraram ali uma oportunidade de negócio, nomeadamente ao nível do marketing.
Manuel Pinto, docente de Comunicação Social da Universidade do Minho, nota que "já há blogs criados para o lançamento de produtos, ou seja: determinada empresa lança um produto para o mercado e cria, em paralelo, um blog dedicado a esse produto, em que faz a compilação de notícias publicadas sobre o produto, acolhe as reacções dos consumidores e novas ideias, na lógica estrita de um diário". O caso da boneca mais famosa do Mundo, a Barbie, é paradigmático a este respeito, existindo centenas de blogs criados em tornodo brinquedo. Mas não só – o maior motor de pesquisa do Mundo, o Google, adquiriu em Fevereiro a Blogspot, maior alocador de blogs, à Pyra Labs, por rentabilizar, do ponto de vista qualitativo, a pesquisa na Internet. Há, além disso, alguns blogs mais popular
es que já alojam publicidade. Luís Novais, da Vector 21, no entanto, apenas vislumbra interesse empresarial "na construção de blogs nas grandes empresas, para suscitar o debate interno e para os gestores possam ter a noção da massa crítica que estão a gerir. apenas ao nível das intranets, e nada mais. O resto será sempre residual", disse.

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Fonte: Jornal de Notícias, 18 de Setembro de 2003
Blogomania nacional
Elmano Madail

A explosão dos diários digitais portugueses conheceu um crescimento exponencial nos meses de Verão, constituindo verdadeira blogosfera lusitana desde que o universo da política aderiu à ferramenta Futuro passa pela depuração de conteúdos e pela nova geração de "moblo gs", permitindo a devassa da vida alheia através de telemóvel com fotografia



Ofenómeno instalou-se devagar, cresceu exponencialmente (ver caixa) e atingiu proporções desmesuradas. Desde que nasceu o primeiro weblog nos Estados Unidos da América – construído por Tim-Bernes Lee em 1992, seguido pelo "What's New" da Netscape, em linha de 1993 a 1996 –, contaminou todo o ciberespaço. Portugal incluído (ver caixa). E que nos reserva o futuro? Manuel Pinto, docente da Universidade do Minho (UM), Braga, onde decorrerá, hoje e amanhã, o primeiro encontro de weblogs em Portugal, julga que "assistiremos a um grande enriquecimento gráfico dos blogs, e com conteúdos mais direccionados. Enquanto fenómeno tenderá a diminuir, mas a facilidade de acesso e de publicação estão para durar, e a prova é que a AOL, que tem milhões de assinantes nos EUA, acaba de criar, a título experimental, uma ferramenta de blog". Para António Granado, também docente universitário, e que abordará a questão pelas 18 horas de hoje na UM, a resposta está nos "moblogs". "São blogs feitos a partir de telemóveis com câmara fotográfica incorporada. Surgirão moblogs de viagens, mas também de figuras públicas em situações embaraçosas. A devassa da intimidade irá explodir", diz. Com efeitos mais poderosos do que o blog nacional mais popular do momento, dedicado à denúncia de presumíveis factos relacionados com o caso da Casa Pia, o Muito Mentiroso (http://muitomentiroso.blogspot.com).
Para lá das dúvidas éticas suscitadas pela utilização de cariz delator sob anonimato dos blogs, popularidade tamanha daquela ferramenta informática suscitou visões inflamadas naqueles que vêem nos blogs o útero que acolhe o embrião de uma nova comunidade, construída pela e na partilha de conhecimentos, a "blogosfera". São os arautos do novo Enciclopedismo que recuperam o mitema da Torre de Babel. Versão "high-tech".
"Os blogs são o fenómeno mais importante que ocorreu na Internet desde há 10 anos. Em 1993, houve a revolução dos browsers, permitindo a navegação. Dez anos depois, é a revolução dos blogs, cuja força provém de constituirem uma grande conversação global, gerando uma comunidade pelo intercâmbio de conhecimentos, produzido pelos post, comentários e réplicas – a 'blogosfera'. Como consequência, os blogs são potentíssima ferramenta para criação de comunidades espirituais baseadas no conhecimento partilhado", sublinha José Luís Orihuela, professor na Universidade de Navarra, Espanha, que também intervirá hoje na UM. E chama a atenção para o facto da depuração de conteúdos de qualidade ser promovida pela própria blogosfera: "Os blog são auto-referenciais, citam-se amiúde,
depurando o seu universo de banalidades. É um espaço semântico por excelência".
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Lusa: 16 de Setembro de 2003

Internet: Weblogs - Moda das páginas pessoais é tema de encontro nacional


Lisboa, 16 Set (Lusa) - Uma página na Internet que se cria em cinco minutos
e tão fácil de trabalhar como uma folha branca A4 é a vantagem dos Weblogs,
a nova moda do universo cibernético com quase 2.000 adesões em Portugal.

Idênticos a uma página da Internet mas muito mais fáceis de usar, mesmo para
quem nada perceba de novas tecnologias ou de programação, os Weblogs tiveram
recentemente um grande desenvolvimento nacional, depois de figuras
conhecidas, como o eurodeputado Pacheco Pereira, terem criado páginas
pessoais.

Na Universidade do Minho, quinta e sexta-feira, realiza-se o primeiro
encontro nacional sobre Weblogs, no qual se vai analisar o fenómeno, quer a
nível nacional quer internacional, além de perspectivar o futuro da nova
moda.

No mundo existem milhões de páginas assim, onde cada um põe desde os seus
diários mais íntimos a críticas políticas, fotografias, textos literários,
poesias ou puras mentiras, o que se quiser.

Para se ter um "cantinho" no mundo da Internet bastam cinco minutos,
inventar um nome (login) e uma senha (password) e fica-se instantaneamente
com uma página para dar largas a ... qualquer coisa.

Especialistas nestes novos tipos de linguagem admitem que ela pode ter um
lado perverso, porque o criador de um Weblog, a coberto do total anonimato,
pode lançar calúnias, dizer mentiras ou denegrir a imagem de outras pessoas,
sempre de forma impune.

"Antigamente havia os panfletos anónimos, isto insere-se nos mesmos
registos. São os riscos que corremos ao assumir uma nova forma de
comunicação, mas serão os próprios utilizadores que vão fazer o necessário
trabalho de depuração", disse à Agência Lusa Manuel Pinto, professor de
jornalismo da Universidade do Minho e um dos organizadores do encontro.

Manuel Pinto, também ele um Blogger (responsável por um Weblog, ou Blog),
admite que em Portugal existam já perto de 2.000 páginas deste género, que
têm uma componente individual ou de grupo forte, visto que, por enquanto,
não há Weblogs institucionais.

"Alguns disputam o espaço dos media, e até há quem diga que são alternativa
aos media, embora pense que eles funcionam mais como complemento", afirmou o
responsável.

Mas além desta vocação (imprensa), a variedade de Weblogs é imensa, como
reconhece Manuel Pinto: "As temáticas são impressionantes, há de tudo, desde
sexo a arte, há os de puro exibicionismo, há outros criados para uma causa,
outros que querem prestar um serviço. Hoje estão mais na moda os blogs
generalistas mas houve uma fase que os políticos estiveram na berra".

Manuel Pinto frisa que há "um fenómeno de moda evidente", mas considera-o
"um fenómeno muito consistente" e não se admira que no futuro possam haver
Weblogs de acesso pago, como agora há páginas da Internet pagas.

Para já, os Weblogs são páginas de Internet pessoais mas que o mundo inteiro
pode ver, com uma funcionalidade acrescida na maior parte dos casos, o
"mundo" pode responder ou comentar as iniciativas do autor.

Em Portugal, o Weblog com mais sucesso, "um crescimento astronómico" como
diz Manuel Pinto, é uma página com uma visão muito própria do caso de
pedofilia envolvendo a Casa Pia.

O autor assume-se como mentiroso. Mas diz a sabedoria popular que uma
mentira muitas vezes repetida (lida, neste caso) se torna verdade.

FP.

Lusa/Fim
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quinta-feira, setembro 11, 2003
 
Fonte: Público, 09 de Setembro de 2003

SIC Radical Reforça Humor
Por PAULO MIGUEL MADEIRA

Terça-feira, 09 de Setembro de 2003

A programação da SIC Radical, que só é acessível na TV Cabo, vai ter uma nova grelha a partir de dia 15. Dois anos depois do início das emissões do canal, o humor continuará a ser uma forte componente. Com algum reforço da produção própria, várias novidades pontuam uma grelha em que há sobretudo programas que continuam e reposições. "O canal quer-se rebelde, a fazer experiências", disse o seu director, Francisco Penim, durante a conferência de imprensa onde, ontem, deu a conhecer as novidades.

"Gato Fedorento" estreia-se no dia 15 e reúne a dupla de humoristas Ricardo Araújo e Diogo Quintela num programa de meia hora, às segundas-feiras (14h30), quartas (20h30), quintas (09h30) e sábados (19h30). Ambos iniciaram a sua carreira televisiva com participações n'O Perfeito Anormal, cuja segunda série começará a ir para o ar no dia 17, e agora passam a ter um programa próprio de meia hora. Fernando Alvim e Nuno Markl estão de volta com O Perfeito Anormal, um 'talk-show' "carregado de humor inteligente e oportuno", na apreciação da própria SIC Radical, onde "entrevistas em estúdio - sérias e preocupadas com a passagem de informação - contrastam mas convivem em harmonia com o resto do conteúdo".

Nuno Markl vai também ser o protagonista de O Homem da Conspiração, que "pega em notícias publicadas, indesmentíveis, datadas, e, partindo da paráfrase, dá origem a analogias, a anedóticas analogias". De segunda a sexta, cinco minutos em que Markl, por exemplo, "pretende explicar por A + B que se, por um lado, dois e dois fazem quatro, por outro, podem perfazer 22. Às 23h e à 01h15.

Ainda no que respeita a humor, estreia-se Imperiais e Batata Frita (Two Pints of Lager [And a Packet of Crisps]), série da BBC onde, em conversas de machos num bar, se fala de mulheres e de futebol, mas também de "crescimento, maturidade e da falta dela". Vinte e dois episódios de meia hora, às segundas (21h30), quintas (15h30), sextas (09h30) e domingos (18h30).

Outra novidade é Push Nevada, uma série de mistério que também "é um jogo, é um quebra-cabeças cheio de cor". Segundo Francisco Penim, algo "entre X-Files e Twin Peaks". São sete episódios de uma hora, criados por Bem Affleck, o argumentista e actor que ganhou um Óscar pelo seu desempenho em "O Bom Rebelde".

Quanto a filmes, há novos contratos, com a Atalanta e com a Comedy Central (a fornecedora de South Park). A primeira longa-metragem da Comedy Central reabre a temporada de cinema da Radical: "Porn'n Chicken", à meia-noite de dia 15. Passa-se numa universidade dos EUA, onde "a pornografia e a galinha assada surgem como factor de união, razão de formação de um clube original".

Quanto a reposições, haverá, entre outras, O Caminho das Estrelas, Mc Gyver, Twin Peaks.

Na primeira semana deste mês, a SIC Radical teve um "share" (quota de audiência) de 4,8 por cento posicionando-se no quinto lugar entre os canais da TV Cabo, segundos dados da Marktest. As audiências da TV Cabo são englobadas pela Marktest na categoria "vídeo/outros", que nas últimas oito semanas tem tido audiências médias a oscilar entre 12,4 e 14,5 por cento.

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Fonte: Correio do Minho, 07 de Setembro de 2003

WEBLOGS

Felisbela Lopes

“Weblogs”. Para alguns, uma palavra comum; para muitos, um conceito completamente desconhecido. É verdade que se trata de uma realidade recente, mas em grande expansão. A nível mundial contam-se mais de dois milhões, em Portugal existem cerca de mil. O Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho promove, nos próximos dias 18 e 19 deste mês, no “campus” de em Gualtar, o I Encontro Nacional de “bloggers”. Mas, afinal, o que é isso dos “weblogs”?
O processo de composição da palavra coloca-nos, desde logo, no essencial. Formado por aglutinação, o vocábulo decompõe-se em “web” (rede) e “log” (diário de bordo onde os navegadores registavam os eventos das viagens, principalmente aqueles respeitantes ao clima). Estamos, pois, num registo pessoal de tonalidades e temáticas variadas, mas, ao contrário dos diários em papel, não se trata de textos que permanecem em zonas sombrias. Pelo contrário. Colocados na “webesfera”, os “blogs” transformam-se em lugares de assinalável “hiper-visibilidade” e de “interactividade”. Todos podem ler o que alguém escreve e pronunciar-se sobre aquilo que aí é tornado público. Instala-se, então, um domínio partilhável por um grande número de pessoas que conversam num espaço virtual.
Em Portugal, há já um número razoável de “weblogs”. Uns mais populares do que outros. Uns mais polémicos, outros mais didácticos. Uns mais sóbrios, outros mais corrosivos. No âmbito do mestrado em Informação e Jornalismo da Universidade do Minho, Manuel Pinto, lançou, há ano e meio, o “blog” “Jornalismo e Comunicação” que pode ser consultado em http://webjornal.blogspot.com. A experiência estendeu-se rapidamente ao curso de Comunicação Social com o “blog” “Aula de Jornalismo” (http://www.aulajornalismo.blogspot.com/) que, para além de conteúdos da disciplina, alberga alguns “blogs” dos estudantes dessa licenciatura.
Nesta atmosfera do virtual, há estrelas que conquistaram rapidamente o seu brilho. É o caso do “Abrupto”, o “blog” de Pacheco Pereira (http://www.abrupto.blogspot.com/); do “Ponto Média”, do jornalista António Granado (http://ciberjornalismo.com/pontomedia.htm); do “Conversas de Café”, de Inês Amaral e de Jaime Silva (http://conversasdecafe.blogspot.com/); d’ “Aviz” (http://aviz.blogspot.com/), do jornalista Francisco José Viegas.
Paralelamente àqueles de quem se conhece o respectivo criador, há também muitos outros que permanecem anónimos. A não-divulgação da identidade daquele que escreve é, aliás, uma das possibilidades abertas por este novo modo de comunicação, que provoca algumas vantagens, mas também perigosas tentações. Há algumas semanas, alguém criou um “blog” para denunciar nomes concretos envolvidos no processo de pedofilia. Em dezenas de generosas e duvidosas linhas, esse emissor, que se confessa sarcasticamente “mentiroso”, aponta várias pessoas da Polícia Judiciária, da Procuradoria Geral da República, dos partidos políticos e do mundo do jornalismo que estariam envolvidos nesse dédalo. Qual a veracidade destas “informações”? Quem as divulga e porquê? Quais os limites deste direito de expressão que os “blogs” permitem?
Para debater estas e muitas outras questões, o Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho promove, este mês, o I Encontro Nacional de “blogs”. Trata-se de uma oportunidade de colocar no espaço referencial aquilo que vem sendo construído na atmosfera virtual. Na próxima semana, continuarei a explorar este universo que está a revolucionar o mundo comunicacional.

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segunda-feira, setembro 08, 2003
 
Fonte: Correio do Minho, 09 de Agosto de 2003

Universidade junta bloggers” nacionais

Durante o último ano cresceram como cogumelos na Internet. Os “blogues”, espécie de diários pessoais abertos a toda a comunidade cibernética, estarão em análise no próximo mês, na Universidade do Minho.

José Paulo Silva

Os “bloggers” portugueses têm encontro marcado para a  Universidade do Minho nos dias 18 e 19 de Setembro.
O  primeiro  Encontro de “Weblogs”, uma nova forma de comunicação via Internet, que registou um crescimento exponencial durante este ano em Portugal, surgiu da vontade de vários “bloggers”, que conseguiram o apoio do Projecto Mediascope, da Universidade do Minho.
A iniciativa visa analisar a situação actual e as perspectivas de desenvolvimento do fenómeno.
Mas afinal o que são os blogues? Segundo uma  definição apresentada recentemente por  Paulo Mendo, um ex-ministro da Saúde rendido às potencia -lidades de comunicação criadas pela “blogosfera”, trata-se de um “bloco de notas permanentemente utilizá- vel, permanentemente aberto à leitura de todo o mundo, tornando atractivo e desejado o outrora tão vulgarizado diário”.
Numa definição mais técnica, podemos apresentar os bloques, que já serão já mais de um milhar em Portugal, como uma “webpage” pessoal com actua- lização constante, similar a um diário electrónico e ordenada de forma cronológica.
Nestas páginas electrónicas, os seus autores colocam os mais diversificados tipo de conteúdos sem censura, pelo que a  liberdade de expressão é uma das grandes virtudes da chamada comunidade blogue.
Eduardo Prado Coelho sustenta que o blogue “corresponde à criação de espaços na Internet onde uma pessoa ou um grupo de pessoas se sente autorizado a escrever sobre todos os assuntos que lhe interessarem”.
Manuel Pinto, um dos organizadores do Encontro de Weblogs, adianta que esta iniciativa procura “conciliar a abertura à participação com a definição de alguns eixos temáticos”.
O Encontro está estruturado em duas sessões gerais e três painéis temáticos.
Na sessão de abertura será feita a análise da situação actual e as perspectivas de desenvolvimento do fenómeno dos “weblogs”.
Na sessão plenária final, será apresentada uma síntese dos pontos mais relevantes suscitados ao longo dos debates.
Quanto aos painéis temáticos, estão previstos temas como a participação e espaço público; investigação, ensino e aprendizagem; jornalismo e comunicação. Em cada painel participarão representantes de dois blogs convidados, ficando dois outros dois abertos a inscrição.
Os promotores contam lançar um inquérito sobre os “weblogs” portugueses, cujos resultados serão apresentados durante o Encontro.
José Luís Orihuela é um dos oradores presentes no Encontro da Universidade do Minho. Trata-se do autor do blogue “eCuaderno” e professor de escrita não linear a desenho audiovisual na Universidade de Navarra. Orihuela participou recentemente na conferência europeia sobre “weblogs”.
A Universidade do Minho tem assistido ao nascimento de vários blogues.
O interesse de alunos e professores por esta área surgiu no âmbito do mestrado de Informação e Jorna- lismo. Em Abril do ano passado, surgiu na Internet o “auladejornalismo.blogspot.com”, um fórum de discussão de temas ligados à comunição. A partir daí, vários outros blogues têm surgido no meio universitário.
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quarta-feira, setembro 03, 2003
 
Fonte: Diário de Notícias, 02 de Setembro de 2003

Blogue-Notas

José Medeiros Ferreira

A bloguemania está a difundir-se rapidamente. É, por enquanto, um exercício particular de quem gosta de ter opiniões abundantes e imediatas e revela uma acentuada necessidade de comunicar. A maior parte dos blogues que conheço aparenta-se ao género diarístico da antiga literatura. Um parente dissemelhante e de outra geração. Em todo o caso é um descendente_ À primeira vista é um descendente, em língua portuguesa, de um Miguel Torga menos esculpido em granito lexical, de um Vergílio Ferreira mais mundano na sua conta-corrente, de um Fernando Aires angustiado de metafísica, de um Cristóvão de Aguiar bloguista avant la lettre com a sua relação de bordo existencial. Até me lembrei de Teixeira de Pascoaes e de Raul Brandão, mas os blogues dos nossos cibernautas pouco tratam de sentimentos. Estão mais virados para a descoberta da luta política por conta própria. Porque será? É claro que os blogues não são mais nem menos do que os sites precocemente envelhecidos pela necessidade de criar modas internéticas. Ainda há 50 anos se viravam os fatos do avesso, dando-lhes um retomado colorido, caso o tecido valesse a pena. O site é mais institucional, o blogue é mais individual _ ambos unidos por uma orgia de endereços electrónicos_ Deste modo, e antes que seja tarde, aproveito esta minha curiosidade de férias, para apresentar um modelo de blogue-notas:
Quinta-feira, dia 28: João Cravinho propõe António Guterres como cabeça-de-lista para as europeias. Não é a primeira vez que o faz, mas em Agosto o caso foi mais falado do que nos blogues que reservam uma entrada para Comentários(o). Acho uma boa ideia, embora não faltem excelentes candidatos a cabeças-de-lista para o Parlamento Europeu em quase todos os partidos do sistema, e até fora dele. Depois dos jogadores de futebol deve ser mesmo a melhor especialidade portuguesa. Por isso não me preocupo muito com o assunto. Alguém há-de aparecer. Prevejo um bom resultado do PS e a eleição de pelo menos um deputado do Bloco de Esquerda. Mesmo que o PSD perca essas eleições, com certeza que Durão Barroso não se demitirá. Vou guardar este blogue até Junho do próximo ano para o citar. Posted by José.
Sexta-feira, dia 29: Chuva. Como disse Teixeira de Pascoaes, o Outono em Portugal começa em Agosto. Esta chuva acaba com os incêndios, dirão os patriotas do clima.
Leio uns documentos da Casa Pia n'O Independente. Mas se todos os portugueses fossem avaliados, na indevida altura, por pedo-psiquiatras, quem garantiria o estado da nação no futuro?! E quantos blogues não seriam precisos para revelar as pulsões, as tendências, e até os actos de tanta gente feliz com lágrimas? Freud elaborou uma teoria geral. Em Portugal, pelo menos desde Pina Manique, elaboram-se fichas pessoais. Posted by Heterónimo Ferreira.
Sábado, dia 30: José Sócrates, no Expresso, afirma que António Guterres é o melhor candidato às eleições presidenciais. Pasmo com este afã de candidatar o presidente da Internacional Socialista a todos os cargos imagináveis. Tanto mais que agora ele vai em missão social da ONU junto de Lula da Silva, conforme também me ensina o mesmo semanário. Prevejo que António Guterres aproveitará a primeira ocasião para repetir estar retirado da política doméstica activa. Ainda é muito cedo para «o natural», como notou o E. P. C. A propósito será que o E. P. C. tem um blogue? Posted by Medeiros.
É isso. Um dia que deixe de ter a coluna no DN vou criar um blogue-notas!
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Fonte: Jornal de Notícias, 01 de Setembro de 2003

Braga debate fenómeno dos "weblog"
Encontro Dias 18 e 19 Universidade do Minho analisa nova tendência da Internet

Elmano Madail


O primeiro encontro nacional dedicado aos "weblogs", tendência internáutica que conheceu crescimento exponencial no último ano na cibercomunidade portuguesa (onde surgiu em 1999) – em Julho haveria cerca de 1100 weblogs nacionais em linha –, vai decorrer na
Universidade do Minho, no campus de Gualtar, em Braga, nos dias 18 e 19.
A iniciativa, que partiu do "Jornalismo e Comunicação – weblog colectivo criado no âmbito do mestrado em Informaçõo e Jornalismo da UM (webjornal.blogspot.com/), resultou da pertinência de "um fenómeno importante do ponto de vista cultural, social e sócio-político, a que a universidade não poderia deixar de estar atenta, reconhecendo-o, valorizando-o e reflectindo sobre ele", de acordo com Manuel Pinto, docente daquela academia.
Por outro lado, o encontro pretende congregar "os webloggers – indivíduos ou grupos –, para um debate face a face, algo que ainda não ocorreu no nosso país mas que já tem sido feito a nível internacional".
Os weblogs, de acordo com definição proposta por Elisabete Barbosa, da organização, "são páginas de internet, organizadas de forma cronológica e que servem para a partilha de informação, conhecimento ideias, fotografias, pensamentos, etc. Estão divididas em
porções de texto ou imagens, datadas, englobando temáticas muito diversas", em que "a interacção do autor dos weblogs com os seus leitores, em muitos casos também eles bloggers, é muito acentuada".
Os interessados poderão aceder à página www.encontrodeweblogs.blogspot.com para informações complementares ao programa que, na sessão de abertura, analisará o fenómeno a nível nacional e internacional, definindo perspectivas para o futuro.
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Fonte: Diário Digital, 14 de Agosto de 2003

Os blogues e a Assembleia da República
Joaquim Amado Lopes

A primeira vez que ouvi falar dos "blogues" não resisti e fui logo ver. Devo confessar que demorei algum tempo até perceber o que era um "blogue". Afinal, supostamente os "blogues" eram algo moderno, inovador e interessante e o que eu via era simplesmente uma vulgar página web, onde o "bloguista" publica artigos, numa versão simplificada (e extremamente limitada) de um vulgar forum, como aqueles que se encontram em inumeros sites. Em alguns blogues, nem sequer se pode comentar os artigos.
Finalmente percebi. Os "blogues" têem realmente algo de moderno, inovador e interessante: o nome! De resto, são tão inovadores quanto cantar em vez de falar ao telefone. Não são funcionais como espaço de debate. Estão mesmo a anos-luz da Usenet. Não são funcionais como repositório de informação. Os artigos são publicados sequencialmente, numa única página. Não são funcionais como espaço de notícias. Não têem organização além da cronológica.
Afinal, servem para quê? Bem, servem para os "bloguistas" publicarem os seus pensamentos, de forma mais ou menos regular (supõe-se que diariamente), o que quer dizer que, com honrosas excepções, os "blogues" são especialmente interessantes para os respectivos autores e mais ninguém. Acredito mesmo que a maior parte das visitas à maior parte dos "blogues" são feitas por quem os escreve, com excepção das alturas em que são referidos na comunicação social.
Foi assim sem qualquer surpresa que soube que a AR votou por unanimidade a criação de uma "blogosfera" para os deputados da Nação. É que a AR só vota qualquer coisa por unanimidade quando:
1. É algo inócuo, tal como louvores a falecidos ou a feitos desportivos ou científicos;
2. É no interesse dos deputados, tal como aumento de salários ou regalias;
3. Fica bem na comunicação social mas não dará nenhum resultado, porque nunca chegará a ser regulamentado e todos se esquecerão;
4. Ou quando não percebem o que estão a votar. Ou seja, por ignorância.
Como os deputados são, na sua grande maioria, info-iliterados (ignorantes no que diz respeito à informática) é pouco provável que sejam mais de meia-dúzia os deputados a criar "blogues". Os dois ou três que estariam realmente interessados em criar e manter o seu "blogue" já o terão feito em 2006. Sim, em 2006. É que a decisão é de criar uma "blogosfera" parlamentar para a próxima legislatura. Isto apesar de uma "blogosfera" ser algo tão simples técnicamente que qualquer aprendiz de webmaster a poderia criar em duas ou três semanas.
Os deputados poderiam ter decidido a criação de um espaço de verdadeira informação. Um espaço, no site da AR, com informação sobre cada deputado (incluindo o contacto), as suas iniciativas legislativas, intervenções, votos, viagens, etc. Mas isso não teria um nome tão "cool" quanto "blogue". E, afinal, quem é que estaria interessado em aceder a informação sobre o que os deputados fazem enquanto tal?
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Fonte: Público, 08 de Agosto de 2003

Universitários do Minho exploram a blogosfera

De blogues com textos informativos os estudantes passaram a exercitar a criatividade em temas ligados à astrologia, humor negro, poesia e medicinas alternativas

Ana Magalhães

No início do passado ano lectivo, o professor de Jornalismo do curso Comunicação Social da Universidade do Minho (UM), Manuel Pinto, sugeriu à turma do 3º ano a criação de blogues com textos informativos. Da estranheza do conceito de blogosfera, os alunos passaram ao conhecimento gradual da linguagem “html” básica para configurar páginas online, até se deixarem contagiar pela necessidade de as actualizar com frequência. Os iniciais blogues com textos informativos foram crescendo e deram lugar a outras páginas pessoais sobre os mais diversos temas. Astrologia, humor negro, poesia, medicinas alternativas e resumos das peripécias diárias de cada um são alguns dos interesses que passaram a ser publicados com a maior criatividade.
Apesar da grande maioria dos alunos terem publicado textos online, até porque contava para a avaliação da disciplina, nem todos se juntaram ao frenesim que se viveu nos primeiros tempos em que o laboratório de computadores, disponível para os alunos de Comunicação Social, serviu de sala se aula para a exploração dos blogues. “Não acho piada escrever e não domino as tecnologias”, contestou Sara Pinto, aluna que não chegou a criar um blogue pessoal. Já Sara Oliveira, autora de http://doladodeca.blogspot.com, confessou que “agora é complicado deixar de escrever”. Sem saber como caracterizar o seu sítio online, garante que não é um “diário público”, mas um local onde escreve “as coisas doidas” que por hábito escrevia nos guardanapos ou toalhas de papel dos restaurantes.
Bruno Matos, autor de http://clickonline.blogger.com.br, diz estar na fase de não fazer actualizações todos os dias por estar de férias, mas foi um dos estudantes que em grupo aprendeu como aproveitar as virtualidades dos blogues. “Cada um descobria uma coisa e depois juntávamos tudo”, testemunhou Joana Fernandes, autora de http://saudechoc.blogspot.com. Para esta aluna, o que mais a surpreendeu foi pesquisar num motor de busca informação sobre acupunctura e encontrar como um dos resultados encontrados o seu blogue.
O estímulo de poderem ser lidos por cibernautas de todo o mundo também serve de incentivo para as actualizações contínuas nos blogues destes alunos da UM. Flávia Peixoto, autora de http://averestrelas.blogger.com.br, dá o exemplo dos leitores estrangeiros que encontra no seu livro de visitas e que chegam ao seu blogue sobretudo vindos de motores de busca.
Na maioria dos blogues que surgiram na UM, a opção de deixar um comentário sobre cada texto permite que o autores das páginas online tomem conhecimento da receptividade dos leitores. Marlita Deodata, autora de http://marlitadeodata.blogspot.com, gosta particularmente de conhecer os diferentes pontos de vista das outras pessoas sobre os temas que escreve nas suas poesias. Já Joana Soares, autora de http://planetab612.blogspot.com, diz estar aberta a críticas positivas e negativas.
A tendência para não actualizar os blogues informativos em virtude da criação de blogues pessoais não preocupa o professor Manuel Pinto por considerar que qualquer blogue criado pelos universitários da UM “pode ser um filão para a vida deles”. Se noutros países são feitas explorações de nichos de mercado pela via dos blogues, o professor é da opinião que os blogues dos universitários minhotos são potenciais instrumentos de negócios.


1º Encontro Nacional de Weblogues realiza-se na UM

Uma equipa de bloguers portugueses, dos quais se destaca António Granado, Pedro Fonseca e Manuel Pinto, está a organizar o 1º Encontro Nacional de Weblogues, a realizar na Universidade do Minho nos dias 18 e 19 de Setembro. Manuel Pinto reconhece que o encontro “está longe de cobrir o leque da blogosfera e vai ser mais um encontro de quem interage virtualmente”. Do programa já anunciado contam-se três painéis sobre os temas “Participação e Espaço Público”, “Investigação, Ensino e Aprendizagem” e “Jornalismo e Comunicação” e em cada um vão participar dois bloguers convidados, ficando outros dois lugares abertos a inscrição. Neste primeiro encontro, a organização espera ainda apresentar os resultados de um inquérito sobre os blogues portugueses. Os géneros de blogues existentes, a frequência das actualizações e as motivações dos autores são alguns dos dados que vão ser dados a conhecer. A.M.

Separar o trigo do joio

Ana Campos

Chego a casa, ligo o computador e passo em revista a blogoesfera. Os incêndios, um grupo que lança um novo álbum, sugestões de leitura e de exposições. Manuel Jorge Marmelo, Pacheco Pereira, Miguel Esteves Cardoso, David Fonseca. Todos eles lá estão, misturados com a pessoas comuns.
A recente entrada de políticos e jornalistas conhecidos na chamada ‘blogoesfera’ nacional veio chamar a atenção de todos para a realidade dos blogues (na verdade, estes já existiam no nosso país - e com qualidade! – há vários anos).
As vantagens desta ferramenta estão à vista. Os blogues são, antes de mais, uma nova forma de liberdade de expressão. Um meio aberto, interactivo e de simples acesso. Um suporte escrito de grande difusão ao alcance de todos. Um misto de crónica de jornal com diário e com a vantagem da actualização instantânea (hoje em dia até é possível actualizá-los pelo telemóvel!).
Lado a lado, estudantes, professores, soldados, jornalistas, funcionários e anónimos aproveitam assim a internet para trocar opiniões e confrontar ideias entre si. A multiplicidade de conversas paralelas reflecte os diferentes olhares dos intervenientes, ajudando à compreensão de pontos de vista e culturas distintas. E o debate não se prende a questões da actualidade: discute-se aqui o mundo. Fotografia, música, cinema, literatura e de tudo um pouco.
“Um weblog é um meio maravilhoso de as pessoas conhecerem os seus próprios gostos e de se tornarem seres mais racionais e analíticos”, diz Rebecca Blood, no livro “The Weblog Handbook”. Infelizmente, nem sempre é assim. Enquanto uns debatem, contam histórias ou trocam links interessantes, outros não fazem mais do que divagar sobre a sua própria monotonia, a rotina do dia-a-dia, os amiguinhos da moda, etc. Coloca-se então a dúvida da (in)utilidade de tantos destes diários, também chamados de “blogues umbiguistas”. Embora pertinente, a questão desvanece na quantidade de informação, qualidade de escrita e pluralismo de ideias que sobressai de muitos deles. Há que separar o trigo do joio. No fim, são os leitores que escolhem o que ler, dando assim motivação a quem escreve. Ou seja, a lei da selecção natural, mais uma vez, em acção.

Membro da direcção do Centro de Estudantes de Engenharia de Sistemas da Universidade do Minho

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